Experiente politicamente a ponto de ser chamado nos bastidores de “velha raposa”, o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), começa a se valer da habilidade para escapar da saia justa criada a partir do vazamento da carta confidencial que enviou à petista Dilma Rousseff. Desde a divulgação do conteúdo da missiva, Temer evitou comentários e postergou ao máximo o agendamento de um encontro com a presidente.
A reunião entre Dilma e Temer está marcada para a noite desta quarta-feira (9), mas o peemedebista já adiantou que o seu desabafo não significa que o PMDB encerrará a parceria com o governo do PT. Aliás, Michel Temer disse que o Brasil vive “normalidade democrática extraordinária”.
Depois de uma reclusão forçada, no embalo da polêmica que emoldurou a aceitação do pedido de impeachment de Dilma, o vice rompeu a quarta-feira com clara disposição de falar com a imprensa. Sobre a eleição da chapa alternativa que integrará a comissão processante do pedido de impedimento, Temer afirmou que a Câmara tomou uma decisão no exercício legítimo de sua competência. Contudo, o ministro Luiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, decidiu, em caráter liminar, suspender o processo de impeachment até julgamento da matéria pelo plenário da Corte.
“Isso revela exatamente que nós vivemos num regime de uma normalidade democrática extraordinária. As instituições estão funcionando, devemos preservar aquilo que as instituições estão fazendo. E revelar com isso a democracia plena do país”, disse o vice, que é presidente nacional do PMDB.
Na política, assim como na UTI de qualquer hospital, uma melhora repentina pode ser o preâmbulo do fim. Isso significa que é preciso cautela diante desse quadro, pois Michel Temer há muito está de olho na cadeira presidencial e já começa a negociar nos bastidores a composição do seu governo, caso alcance o principal gabinete do Palácio do Planalto.
Se Dilma Rousseff está menos intranquila com as declarações do vice, que redobre a atenção, pois o PMDB é uma legenda de profissionais. Haja vista o que fez o deputado federal Leonardo Picciani (RJ), apeado da liderança do partido na Câmara apenas porque foi com muita sede ao pote.
O resultado do encontro entre Dilma e Michel é impossível prever, mas depois da fatídica carta o bom convívio, mesmo que cenográfico, não será o mesmo. Até porque, a relação entre ambos sempre foi marcada pela desconfiança.
A única questão que deve ser considerada é que Michel Temer, constitucionalista conhecido e que já foi presidente da Câmara dos Deputados, já disse, em alto e bom som, que o pedido de impeachment da presidente da República tem fundamentos jurídicos sólidos. Temer também afirmou que foi legítima e constitucional a eleição da chapa que integrará a comissão processante.
De tal modo, o máximo que pode ocorrer nesse esperado encontro desta noite é Temer indicar uma empresa de mudanças para Dilma Rousseff, já que de acordo com a legislação vigente no País não há como barrar o processo de impeachment, a não ser por meio do golpe que o PT e seus aliados tentam emplacar.