O PT está adotando manobras radicais para tentar salvar a legenda que, com o agravamento do escândalo de corrupção detonado pela Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, parece caminhar para a implosão. A senadora Gleisi Helena Hoffmann (PT-PR), principal beneficiária das doações suspeitas das empresas fornecedoras da Petrobras, está na alça de mira. Para sua campanha em 2010, a petista recebeu R$ 2,4 milhões – o maior montante entre 121 parlamentares que receberam doações de 18 empresas suspeitas de participação no esquema de desvio e lavagem de R$ 10 bilhões, operado pelo doleiro Alberto Youssef.
O agravamento da situação da senadora paranaense leva o PT a estudar o seu afastamento do partido até que todas as investigações sejam concluídas. O afastamento seria parte de uma nova estratégia, que ficou evidente no caso do senador Delcídio Amaral, preso por ordem do STF sob a acusação de conspirar para atrapalhar as investigações da Lava-Jato. O PT não quer mais morrer abraçado a filiados que “queimaram o filme” de forma irremediável.
Delcídio foi abandonado pelo partido tão logo teve a prisão decretada. O senador, que era uma estrela do partido, íntimo da presidente Dilma Rousseff e encarregado por Lula para missões delicadas, foi jogado ao mar e humilhado. Lula o chamou de “imbecil e idiota” e o PT faz todo o possível para se distanciar do senador em desgraça. A situação da senadora é, também, muito complicada.
Gleisi aparece na lista dos 25 senadores e 96 deputados no levantamento feito pela Veja nos registros do Tribunal Superior Eleitoral. As empresas são investigadas por terem comprovadamente depositado recursos na MO Consultoria – empresa de fachada de Youssef – ou são suspeitas de colaborar para o esquema de coleta de recursos tocado pelo ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa. O grupo de congressistas recebeu, ao todo, R$ 29,7 milhões de um conjunto de 18 grupos empresariais sob suspeita. Gleisi é a principal beneficiada – recebeu R$ 2,42 milhões, equivalente a 8,14% das doações levantadas entre os fornecedores da Petrobras.
Os grupos empresariais ambicionavam estabelecer relações com amplo espectro de partidos e políticos. Na composição atual do Congresso Nacional, um em cada cinco deputados e um em cada três senadores eleitos receberam alguma doação oficial das empresas ligadas de alguma forma ao doleiro ou ao ex-diretor de Abastecimento da Petrobras. Os fornecedores da Petrobras agora investigados doaram, de forma oficial, R$ 856 milhões a partidos e candidatos entre 2006 e 2012. Entre os parlamentares em atuação no Congresso, o PT desponta com R$ 12,6 milhões recebidos.
Até o momento, a senadora Gleisi Hoffmann não foi afastada do partido, muito menos presa pela Operação Lava-Jato, mas a avaliação geral é de que em breve poderá receber uma visita do “Japonês da Federal”. O PT já deixou claro que não vai adotar a atitude suicida de dar apoio incondicional e pode adotar uma atitude preventiva suspendendo a filiação de Gleisi no partido caso surjam novas evidências de comprometimento no esquema criminoso.