Segundo alerta da Organização das Nações Unidas (ONU), a guerra na Síria, que completará cinco anos, “destruiu” um país, levou seu povo à “miséria” e abriu “a maior crise humanitária do século XXI”.
Nesta terça-feira (26), a ONU apresentou os novos dados do impacto social, econômico e humano do conflito que já matou 260 mil pessoas. As pessoas tiveram suas casas destruídas, as crianças não podem ir para a escola, não há hospitais suficientes e a miséria é generalizada.
O representante da ONU na Síria, Yacoub El Hiilo, apresentou um raio-x de “uma sociedade em colapso”. “Metade da população não vive mais em suas casas, 6,5 milhões foram obrigados a deixar suas regiões e 4,5 milhões de pessoas abandonaram o país”, declarou.
Os dados são apresentados às vésperas da retomada de uma negociação de paz, programada para ocorrer a partir da próxima sexta-feira em Genebra. “O sofrimento é imenso e os sírios começam a perder a esperança de que o mundo ainda se preocupa com eles”, disse El Hiilo. “Trata-se de um grande fracasso político.”
As informações da ONU revelam como a guerra se traduziu para a sociedade: 67% da população síria hoje vive abaixo da linha da pobreza. Para a Unicef, o país é hoje “o lugar mais perigoso do mundo para ser uma criança”; dois milhões de menores estão fora das escolas e 50 mil professores abandonaram o país ou foram mortos. Apenas neste ano, 35 escolas foram bombardeadas.
Vale ressaltar que a realidade se contrasta com um cenário muito diferente antes da guerra. “90% das crianças estavam nas escolas. Hoje, perdemos o equivalente de duas décadas de educação e corremos o sério risco de perder toda uma geração”, afirmou a Unicef.
Elisabeth Hoff, representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) em Damasco, ainda aponta para a “destruição do sistema de saúde”: 50% dos médicos sírios abandonaram o país, 60% dos hospitais estão fechados; 50% das clínicas não funcionam e, em algumas regiões, campanhas de vacinação não ocorrem desde 2013. “Muitas das doenças que haviam desaparecido, hoje voltaram”, disse Hoff.
A ONU denuncia o fato de que as diferentes partes no conflito passaram a usar a fome como “arma de guerra”. O resultado, segundo a entidade, é dramático. Por exemplo, na cidade de Madaya os estoques de uma clínica local contavam com remédios e vacinas. Mas, sem comida por seis meses, as crianças não tinham força sequer para reagir a tratamentos. O local, com 40 mil habitantes, contava com apenas dois médicos.
O conflito também tem esgotado os recursos internacionais. No ano passado, a ONU pediu quase US$ 3 bilhões dos governos para socorrer os sírios., mas recebeu apenas US$ 1,4 bilhão. “O mundo só acordou para a Síria quando os refugiados chegaram até a Europa”, acusou El Hiilo.
Ian Egeland, chefe do Conselho Norueguês de Refugiados, também faz seu alerta. “A Europa fez o erro estratégico de não dar dinheiro para lidar com o impacto humanitário da guerra e, agora, gasta muito mais para lidar com refugiados”, disse.
John Ging, Coordenador Humanitário da ONU, afirma que não existe uma “solução humanitária para a guerra na Síria” e apenas um cessar-fogo pode frear o caos. “Vamos lamentar por décadas se perdermos essa oportunidade de negociar um acordo. Se ele fracassar, a situação vai ficar ainda pior e milhões de refugiados irão até a Europa”, finalizou.