Em delação, Júlio Camargo afirma que Dirceu viajou 113 vezes em jato de luxo emprestado

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Em depoimento ao juiz federal Sérgio Fernando Moro, na última sexta-feira (22), o empreiteiro Júlio Camargo afirmou que as horas de voo utilizadas por José Dirceu foram abatidas de uma conta de R$ 1 milhão em propina restante, a ser paga por ele ao ex-ministro por contratos na Petrobras.

“O saldo de R$ 1 milhão (de propina) entrou em uma conta de afretamento de aviões. O ministro se utilizava dois aviões que eram de minha propriedade. E isso representava um débito e era compensado nessa conta de R$ 1 milhão que ficou restante”, afirmou o empresário. Os dois são réus em processo por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, envolvendo contratos da Petrobras.

De acordo com Camargo, o valor de R$ 1 milhão restante referia-se a um acerto de R$ 4 milhões que teria sido fechado com dois representantes da Diretoria de Serviços da Petrobras, que eram seus contatos diretos sobre o assunto “propina” na estatal: Renato Duque, ex-diretor indicado ao cargo pelo ex-ministro, e Pedro Barusco, o ex-gerente de Engenharia, braço direito de Duque. Ambos eram da cota do PT no esquema de fatiamento político das diretorias da estatal, que incluía ainda o PMDB (que controlava a Diretoria de Internacional) e PP (Diretoria de Abastecimento).

Como prova, Júlio Camargo apresentou a Sérgio Moro uma planilha com os registros de voos, data, hora da partida e da chegada, período de voo e quilometragem, com identificação do passageiro “J.Dirceu”.

Na segunda-feira (25), o documento foi anexado ao processo penal em que Dirceu, Duque e Julio Camargo são réus – junto com outros envolvidos – pelo recebimento de propina da empreiteira Engevix.

São dois jatos, um Citation Excel (PT-XIB) e um Citation Mustang (PP-EVG). O primeiro teria sido comprado por Dirceu em 2011 e devolvido, em seguida. O segundo consta como sendo propriedade da empresa Riomarine, do operador de propinas e também delator Mário Goes.

Moro indagou se era feita alguma simulação de pagamento para cobrir o abatimento das horas de voo dentro do caixa da propina. O delator explicou que era feito um acerto de contas mensalmente entre ele, o operador de propinas Milton Pascowitch, o irmão e sócio de Dirceu, Luis Eduardo, e seu assessor Roberto Marques, o Bob – os três, também réus do processo.

Então, o juiz pediu para o empreiteiro apontar se alguma vez Dirceu pagou pelo uso das aeronaves de Julio Camargo. “Se não me falha a memória uma ou duas vezes foram pagos. Mas se o senhor considerar os inúmeros voos que foram feitos, diria para o senho que foi muito pequena (as) parte (s) que foram pagos diretamente”.


O Ministério Público Federal acusa Dirceu de ter comprado uma cota de um terço do jato prefixo PT-XIB, em 2011, por meio do operador de propinas Milton Pascowitch. Ligado à empreiteira Engevix, ele confessou ao juiz da Lava-Jato, também na última sexta-feira, ter adquirido parte da aeronave para uso do ex-ministro.

“O denunciado Dirceu, de modo consciente e voluntário, no contexto das atividades da organização criminosa” teria dissimulado e ocultado a origem e a propriedade da parte de 33% dos Cessna Aircraft, modelo 560XL.

“Quota parte essa que foi adquirida em favor de Dirceu por Milton, José Adolfo (Pascowitch) e Júlio Camargo, por intermédio das empresas Jamp e Avanti, com recursos provenientes dos crimes de cartel, fraude a licitação e corrupção praticados pelos executivos da Engevix, Hope e Personal, em detrimento da Petrobrás”, registra a denúncia da força-tarefa da Lava-Jato.

Os dois operadores de propina na Petrobrás e delatores nos processos afirmaram que o negócio foi desfeito logo depois, e que apenas uma parcela do valor total de R$ 1 milhão foi paga. O dinheiro teria saído da empresa de Pascowitch, a Jamp Engenheiros Associados – usada para movimentar propinas – para Julio Camargo.

Com o fim da transação, Camargo teve que devolver a primeira parcela paga. Foi só então que ele diz ter tomado conhecimento do suposto envolvimento de Dirceu no negócio. “Milton que comprou a aeronave pela Engevix e me cobrou com o nome do doutor José Dirceu, a devolução do valor que ele tinha pago”.

O lobista, que representava no Brasil os interesses da japonesa Toyo Engineering Corporation e também de algumas brasileiras, como a Camargo Corrêa, Setal e UTC, declarou que decidiu vender uma cota da aeronave por não fazer uso constante dela. Pascowitch teria informado que a Engevix precisava de um novo jato, especialmente após a compra do Estaleiro Rio Grande (RS) – adquirido da WTorre, outra investigada da Lava Jato, para construção de plataformas para a Petrobrás, via Sete Brasil.

“Eu vendi uma parte desse avião, e se o senhor verificar, esse contrato de venda para a Engevix aconteceu em 7 de julho de 2011. Se o senhor pegar a tabela que eu vou lhe entregar o senhor vai verificar que os últimos voos do ministro, do ex-ministro, foram em junho de 2011, nessa aeronave”, reafirmou Julio Camargo, com o documento entregue a Moro.

“Se ele (Pascowitch) tivesse me dito que a aeronave era para o senhor José Dirceu eu não teria vendido. Porque isso já estava me causando inúmeros problemas. Porque toda vez que o senhor José Dirceu entrava no avião, aparecia o prefixo do avião e ‘doutor José Dirceu usando avião fretado, andando de jatinho para baixo para cima’. Aquilo deu uma visibilidade no avião que perdeu o seu preço, porque ficou rotulado como um avião do José Dirceu”, contou Julio Camargo.

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