Há algumas décadas surgiu a teoria não comprovada de que quem casa o faz pensando na separação. Assunto creditado à modernidade da vida. Na prática isso ainda não foi comprovado, mas é sabido que separações têm ocorrido com mais frequência, mesmo que essas não superem o número de uniões formais ou não.
Se casar ainda é o projeto de muitas pessoas ao redor do planeta, a separação continua sendo o fantasma que assusta os devotos do “felizes para sempre” e do “até que a morte os separe”. Enquanto isso suscita discussões de todos os naipes, em algumas cidades suíças “separação” e “divórcio” são palavras que não encontram espaço no cotidiano local.
Segundo reportagem do site “swissinfo.ch”, assinada pela jornalista Julie Hunt, a pitoresca cidadezinha de Niederwald, no cantão do Valais, tem uma suntuosa igreja do século XVII e os moradores dizem que a religião e a responsabilidade social desempenham papel-chave na manutenção dos casais. A 20 km de distância, no povoado de Bister, o prefeito diz que a religião não é um fator importante, mas os valores tradicionais influenciam o comportamento. Também não há muita tentação, pois há apenas 31 moradores.
Cerca de 40 mil pessoas se casam todos os anos na Suíça, apesar das desvantagens financeiras que emolduram a união. Afinal, a Suíça, apesar dos seus muitos encantos naturais, respira dinheiro. Ao contrário dos cônjuges não casados, os rendimentos dos casais são somados, muitas vezes empurrando-os para uma categoria tributária mais elevada. Os casais também recebem pensões mais baixas do que os não casados quando se aposentam.
Se por um lado o casamento piora a situação tributária do cidadão, por outro facilita, por exemplo, a locação de um imóvel. Isso porque na Suíça alugar uma casa exige comprovação de rendimento mensal igual ou maior a três vezes o valor do aluguel. Considerando que no país dos chocolates, queijos, relógios e canivetes – e bancos também – o salário mínimo gira em torno de 3 mil francos suíços (aproximadamente R$ 12 mil), o aluguel de um apartamento pequeno e modesto pode custar 1,7 mil francos suíços. De tal modo, quem recebe um salário mínimo só consegue alugar um imóvel se agregar a renda do cônjuge ou parceiro.
O Partido Democrata Cristão (PDC) lançou uma iniciativa para conter a penalização do casamento. O país decidirá sobre o tema no final deste mês. Quando se considera as tensões financeiras e outras sobre um casamento moderno, parece ainda mais notável que em Bister e Niederwald quem diz ‘aceito’ na hora decisiva sabe o que está fazendo.