Operação Acarajé: investigação coloca “amiga” de Dirceu em situação de dificuldade no Brasil e no Peru

zaida_sisson_1001

A força-tarefa da Operação Lava-Jato atravessou a fronteira brasileira com o belo e vizinho Peru ao deflagrar a Operação Acarajé. Como noticiou o UCHO.INFO em matéria anterior, relatório da PF sobre a Operação Acarajé traz uma planilha de gastos de um suspeito com “vínculo empregatício” com a Odebrecht e que cita o “Projeto OH”, suposta referência a Ollanta Humala, presidente peruano.

Na anotação, o nome de Humala aparece ao lado da cifra de R$ 4,8 milhões. Ele também é citado em mensagem registrada no celular do presidente afastado da construtora Norberto Odebrecht, Marcelo Odebrecht, preso desde junho de 2015 por determinação do juiz Sérgio Moro.

“A se confirmar esta hipótese investigativa, o então dirigente máximo do Peru teria sido beneficiado pelo Grupo Odebrecht e isso, de alguma forma, estaria atrelado aos investimentos feitos pelo governo federal naquele país”, diz o relatório assinado pelo delegado Filipe Pace, da PF.

Em novembro de 2015, aproveitando a base de dados da Lava-Jato, o Parlamento peruano criou comissão para investigar corrupção ativa por parte de empresas brasileiras, que teriam pago propinas a funcionários públicos do país. A comissão investiga supostos encontros entre a empresária brasileira Zaida Sisson de Castro, mulher de um ex-ministro peruano, e autoridades do governo de Alan García (2006-2011) e do atual presidente, Ollanta Humala.

Quem é Zaida Sisson?

A consultora Zaida Sisson, conexão de Dirceu no Peru, foi casada com o arquiteto peruano Rodolfo Luis Beltrán Bravo. Ele foi ministro da Presidência (1989-1990) no primeiro governo de Alan García, titular do Ministério do Comércio Exterior e diretor do Banco Central da Reserva, além de conselheiro comercial na embaixada peruana na Venezuela.

Em novembro de 2009, Zaida levou Dirceu a uma reunião com o então primeiro-ministro do Peru, Javier Velásquez Quesquén, do Partido Aprista Peruano e ex-presidente do Congresso Nacional. Na ocasião, ela prestava serviços à filial peruana da Galvão Engenharia.

No mesmo período, o marido de Zaida ocupava a diretoria do Agrorural, programa governamental de desenvolvimento produtivo agrário e rural do Ministério da Agricultura, no segundo governo do ex-presidente Alan García. José Dirceu já era deputado cassado e réu no Mensalão do PT (Ação Penal 470), além de estar longe do Palácio do Planalto, mas no peru parecia falar em nome do governo brasileiro.

A reunião precedeu uma visita de Estado do então presidente Lula, em dezembro daquele ano. No fim do encontro, Dirceu perguntou a Velásquez se Lula não iria ao Peru em breve. Zaida interveio e respondeu que sim. O premiê Velásquez, por sua vez, acrescentou que conversariam sobre a Petrobras. Dirceu fez um sinal positivo com a mão e disse: “Isso é importante”.


Na reunião, José Dirceu conversou em “portunhol” com o então presidente do Conselho de Ministros sobre o desenvolvimento do Brasil, defendeu a integração tecnológica e disse que o Peru seria a saída “preferencial” que o Brasil buscava para o Oceano Pacífico. O petista, que continua preso em Curitiba no vácuo da Lava-Jato, afirmou na ocasião que muitas empresas brasileiras estavam interessadas em investir no país. “Tem muitos empresários brasileiros que querem vir ao Peru”, disse o petista.

“O Lula tem o Peru como prioridade na América do Sul. As relações com Paraguai e Bolívia são de outro tipo porque temos contencioso e temos que apoiar o desenvolvimento desses países. O Peru está em outro nível. E com a Argentina temos problemas e mais problemas porque é natural, são duas economias que competem”, ressaltou Dirceu. “Estou à ordem. Basta me convocar que estou sempre à disposição do Peru”, concluiu.

A audiência foi gravada em vídeo e publicada por Zaida em um canal de vídeos na internet, mas o vídeo foi apagado após questionamento da revista Veja, que quis saber sobre a atuação profissional da brasileira e sua conexão com Dirceu.

Logo depois, Lula fez mais um incentivo aos investimentos brasileiros no Peru, inclusive com crédito do BNDES. O ex-presidente palestrou a empresários peruanos e brasileiros, reuniu-se reservadamente com Alan García, e depois com o atual presidente, Ollanta Humala, do Partido Nacionalista Peruano.

Na sequência, o agora lobista-palestrante assinou onze acordos de cooperação com o país andino, na área de transporte aéreo, comércio e energia, como a construção de uma hidrelétrica na fronteira com o Acre.

Em 3 de agosto de 2015, a Polícia Federal vasculhou um apartamento na região central da capital, endereço de Zaida Sisson. As buscas foram realizadas pela PF no imóvel porque Zaida Sisson foi citada na delação premiada do lobista Milton Pascowitch, que denunciou propinas para o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, preso na Operação Pixuleco.

Relatório da PF indica que Zaida Sisson foi destinatária de R$ 364.398,00, remetidos pela JD Assessoria e Consultoria, empresa de José Dirceu, criada depois que o petista perdeu o mandato de deputado federal e tornou-se réu na Ação Penal 470. As remessas ocorreram entre 16 de janeiro de 2009 e 16 de novembro de 2011.

“Zaida foi mencionada por Milton como esposa do Ministro da Agricultura do Peru e indicada por Dirceu a atuar na obtenção de contratos para a Engevix naquele país. Aliás, Zaida também foi citada em informações prestadas por outra empreiteira cartelizada, a Galvão Engenharia, como responsável pela SC Consultoria S.A.C., indicada por Dirceu para prestar assessoria à Galvão no Peru”, destaca documento do Ministério Público Federal no pedido de prisão de Dirceu.

“José Dirceu expandiu sua “consultoria” para Zaida, que, segundo Milton Pascowitch, seria casada com um agente político do Peru, para atuação naquele país”, aponta a PF.

apoio_04