O Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) da Bolívia confirmou nesta quarta-feira (24) a prevalência do ‘não’ no referendo constitucional realizado no último domingo. O resultado impede que o presidente Evo Morales, no poder desde 2006, volte a ser candidato nas eleições de 2019.
O ‘não’ se impôs com 51,31% frente a 48,69% do ‘sim’, depois de apurados 99,49% dos votos, afirmou a presidente do TSE boliviano, Katia Uriona. O resultado é muito semelhante ao previsto pelas pesquisas de boca de urna.
Em um país em que o voto é obrigatório, 6,5 milhões de bolivianos, mais 300 mil no estrangeiro, foram chamados às urnas para decidir se o presidente poderia disputar um quarto mandato, o que lhe permitiria ficar no poder até 2025. Morales, de 56 anos, havia previsto que o ‘sim’ venceria com 70%.
Após a divulgação do resultado, o ex-presidente boliviano Carlos Mesa disse que a vitória do ‘não’ mostra que “não há pessoas indispensáveis, apenas causas imprescindíveis”.
Mesa, que presidiu a Bolívia entre 2003 e 2005, postou em sua conta no Twitter uma mensagem dirigida a Morales. “Presidente, o voto dos bolivianos mostra que não há pessoas indispensáveis, apenas que há causas imprescindíveis”, escreveu.
Em outra mensagem, Mesa afirmou que “o triunfo do ‘não’ retrata a consciência de um país que sabe que o respeito pela Constituição limita o poder absoluto dos governantes”.
A vitória apertada do ‘não’ significa a rejeição popular à proposta do governo de alterar um artigo da Constituição da Bolívia para estender de dois para três o número de mandatos presidenciais consecutivos permitidos.
Morales e seu vice-presidente, Álvaro García Linera, pediram apoio à proposta com o intuito de poderem se candidatar às eleições presidenciais de 2019 para buscar um quarto mandato consecutivo até 2025.
Ambos governam a Bolívia desde 22 de janeiro de 2006, assumindo o segundo mandato em 2010 e o terceiro em 2015. A dupla pôde concorrer nas eleições de 2014 devido a uma decisão do Tribunal Constitucional da Bolívia, que afirmou que o primeiro mandato não entra na conta porque o país foi refundado como Estado plurinacional em 2009.
Líder dos plantadores de folha de coca, Evo Morales tornou-se ao longo dos anos refém dos principais produtores bolivianos de pasta-base de cocaína, que conseguiram enxertar na estrutura do Estado inúmeros representantes, todos defendendo de forma acintosa os interesses dos barões das drogas.
Antes da chegada de Morales ao poder central, a Bolívia produzia anualmente 50 toneladas de pasta base, mas com a eleição do cocalero a produção saltou para 300 toneladas por ano. Vizinho da Bolívia, o Brasil é o maior consumidor de cocaína do planeta, funcionando também como rota de passagem para o excedente da droga que segue para outros países. (Com agências internacionais)