Lula chega a Brasília disposto a desistir do cargo de “quase ministro”, mas Dilma pede tempo

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Anunciado com pompa e circunstância como a grande e derradeira solução de um governo que sucumbe à sombra da crise político-econômica, Lula, o palestrante em fuga, tornou-se um enorme problema para Dilma Rousseff, que às pressas nomeou o antecessor como ministro-chefe da Casa Civil, manobra que tinha como objetivo evitar que o ex-presidente fosse preso na esteira da Operação Lava-Jato.

Com a divulgação do conteúdo de suas conversas nada republicanas, com direito a ofensas a autoridades dos poderes Legislativo e Judiciário, e a liminar do STF que suspendeu sua posse como ministro de Estado, Lula assiste ao derretimento célere da própria trajetória política, que em breve poderá acabar na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba.

Ciente de que seu ingresso na equipe ministerial de Dilma foi um equívoco sem precedentes, até porque “nunca antes na história deste país” um presidente abrigou um fugitivo no Palácio do Planalto, Lula estava decidido a deixar o governo, mas Dilma convenceu-o a esperar mais um pouco. O que pode significar o acirramento da crise atual, que não é pequena.

Diante da suspensão da posse, Lula acionou seus advogados e um grupo de renomados juristas para tentar reverter no Supremo Tribunal Federal (STF) o cenário que o impede de atuar oficialmente como chefe da Casa Civil, ao mesmo tempo em que afirmou que trabalharia informalmente para recompor a articulação política do governo e salvar, quem sabe, o governo da sua mais bizarra criatura política.

Lula desembarcou em Brasília na noite desta segunda-feira (21) para um encontro com a presidente da República, mas a pessoas próximas já dava sinais de que desistiria do cargo de ministro. Após a decisão do ministro Gilmar Mendes, do STF, que suspendeu a posse do ex-metalúrgico, o governo recorreu na mesma instância, mas a chance concreta de o plenário da Corte impor mais uma derrota acachapante ao Palácio do Planalto está sendo avaliada pelo staff palaciano.


Essa repentina mudança no quadro político aconteceu após a divulgação da conversa entre Lula e Dilma, na qual a presidente deixa claro que a nomeação do antecessor foi uma manobra ilegal para obstruir as investigações da Lava-Jato e o trabalho do juiz Sério Moro, que nos últimos dias passou à condição de alvo dos ataques petistas. Fora isso, a divulgação de outros telefonemas considerados inadequados e ameaçadores fizeram de Lula o problema maior de um governo que afunda na crise.

Com a situação do governo piorando a cada momento e com Lula engessado politicamente por causa dos próprios atos, reconstruir a articulação política do governo Dilma tornou-se a mais impossível das missões, pois nenhum político sente-se seguro para falar por telefone com o quase chefe da Casa Civil.

Se à presidente da República ainda sobra alguma dose de bom senso, a saída mais adequada no momento é aceitar o pedido de demissão de Lula – se é que assim pode ser classificado –, fato que minimizaria a situação de dificuldade do governo, o que não significa que as nuvens negras despareceriam do horizonte político.

Dilma, por outro lado, sabe que guindar Lula ao status de ministro foi uma manobra suicida, assim como tem consciência de que sua saída do comando do País é uma questão de tempo. No caso de querer evitar a suspensão dos direitos políticos, reflexo imediato da aprovação do impeachment, A presidente deveria renunciar à Presidência da República. Mesmo diante desse emaranhado de dificuldades, a petista insiste em ficar no cargo e lutar pela posse de Lula. O que mostra o nível de degradação do governo.

Por outro lado, sem o status oficial de ministro, Lula terá de se deslocar de São Paulo a Brasília, e vice-versa, em aviões privados, já que o uso de jatos da Força Aérea Brasileira é restrito a ministros de Estado, desde que respeitadas algumas condições. Como Lula não viaja em avião de carreira, pois seria alvo de um linchamento moral sem precedente, o custo do fretamento de jatos executivos ficaria sob sua responsabilidade ou, então, do instituto que leva o seu nome.

Como o Instituto Lula recebeu polpudas doações de empreiteiras investigadas na Operação Lava-Jato, o ex-metalúrgico levaria ao governo mais um espinhoso problema. Diante dos desdobramentos da crise, o melhor remédio é Lula voltar para o lugar de onde jamais deveria ter saído, a não ser para uma visita demorada ao juiz Sérgio Moro.

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