Em março, hospitais da rede privada de São Paulo registram um número crescente de casos da gripe A (H1N1). O índice, que não é comum para o período do ano, fez alguns centros médicos particulares temerem uma epidemia e anteciparem medidas de controle de fluxo de pacientes no atendimento de emergência.
O Hospital Samaritano apontou que tem contabilizado 134 casos confirmados da chamada ‘gripe suína’ em 2016, sendo 104 registrados somente em março, dos quais 19 foram graves. Os dados são baseados nos exames coletados no pronto-socorro e no laboratório externo. Nenhum caso de H1N1 foi registrado durante o ano passado no hospital.
“Pelo aumento do número de casos dentro da instituição, tratamos como situação de alerta. Antecipamos o fluxo dedicado ao atendimento da patologia só quando tem uma incidência alta. Ano passado não precisamos fazer isso. Este ano foi necessário”, ressaltou Bianca Grassi de Miranda, infectologista do Samaritano.
Na rede de hospitais São Luiz foram computados 51 casos notificados e/ou confirmados de H1N1 entre os meses de janeiro a março deste ano. Em 2015, no mesmo período, foram apenas 3. Vale destacar que os casos confirmados no São Luiz são aqueles pacientes que fizeram o exame especifico para diagnosticar a gripe A. Como o procedimento não está dentro da cobertura dos planos de saúde, muitos pacientes optam por não pagar pelo serviço. O centro médico trata como notificados os casos de pacientes que são diagnosticados com a síndrome, mas que não quiseram pagar pelo exame.
O Hospital Albert Einstein notou o crescimento de pacientes com influenza, porém afirma que não há registro específico do número de pessoas infestadas pela gripe influenza. O dado, apesar de genérico, serve de alerta: de 3 de janeiro a 19 de março, o centro médico registrou um aumento de quase 150% em relação ao mesmo período do ano passado. Foram 2.108 casos da gripe. O crescimento foi mais acentuado na última semana, de 13 a 19, quando foram registrados 628 casos, sendo 137 em 2015, um crescimento de 360%.
O H1N1 é um subtipo do vírus A, que causa doença respiratória aguda e altamente contagiosa que, em casos mais graves, pode levar a morte. Em 2009, a Organização Mundial da Saúde (OMS) chegou a emitir um alerta de pandemia, pela gravidade da situação. Só no Brasil, foram 50 mil casos e mais de duas mil pessoas morreram.
Bianca Grassi revela que o hospital Samaritano dispôs uma equipe direcionada ao atendimento de pacientes com sintoma da doença que chegam ao pronto-socorro. “Já temos um olhar diferenciado desde o início de março. Alertamos todo o corpo clínico e acompanhamos esses casos”, explica a infectologista.
O hospital registrou um óbito provocado por H1N1 em janeiro. Segundo a médica, a vítima tinha fator de risco, e havia se deslocado para o exterior.
O Hospital Nove de Julho contabilizou 12 casos, sendo 11 somente este mês. O centro médico também oferece atendimento especializado aos pacientes com a síndrome gripal. “Devido ao elevado número de casos nos últimos dias, pacientes que chegam ao hospital com os sintomas de gripe ou resfriado são levados para uma sala separada e recebem máscaras que devem ser utilizadas até o atendimento médico. Além disso, todo o corpo clínico foi comunicado sobre uma possível epidemia de H1N1 e está alerta para possíveis casos”, explica Regina Tranchesi, infectologista da instituição.
Conforme os especialistas, os dados são preocupantes porque a doença costuma contagiar um número maior de pessoas entre maio e julho, quando a temperatura é mais baixa. “Como houve um aumento considerável de casos confirmados no mês de março, nós consideramos, sim, que a situação pode caminhar para uma epidemia”, aponta Regina.
A Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo afirma que segue protocolo do Ministério da Saúde para notificação dos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) causados por Influenza, independente do vírus.
Embora os números pessoas infestadas por H1N1 seja elevado, a notificação só é feita pelos serviços públicos e privados, com base no protocolo, em situações graves (que exigem internação), óbitos, e surtos – quando há registro de dois ou mais pacientes com sintomas similares de influenza com convivência no mesmo espaço e no mesmo período de tempo. Pode ser casa, escola ou trabalho.
Com base nesse critério, a cidade de São Paulo tem, hoje, 35 casos e quatro óbitos provocados por H1N1. No ano passado foram registrados 12 casos e nenhum óbito.
Contudo, a Secretaria não vê a estatística como alarmante, tendo em vista o tamanho do sistema de saúde público e privado oferecido na capital paulista. Mas a pasta afirma que conversa com o governo do Estado sobre a possibilidade de antecipar a campanha de vacinação deste ano, programada para iniciar no dia 30 de abril.
A medida seria para evitar o agravamento de casos nos grupos de risco – crianças de 6 meses a menores de 5 anos, gestantes, puérperas, trabalhador de saúde, povos indígenas, indivíduos com 60 anos ou mais de idade, população privada de liberdade, funcionários do sistema prisional, pessoas portadoras de doenças crônicas não transmissíveis, pessoas portadoras de outras condições clínicas especiais (doença respiratória crônica, doença cardíaca crônica, doença renal crônica, doença hepática crônica, doença neurológica crônica, diabetes, imunossupressão, obesos, transplantados e portadores de trissomias).