No universo do crime organizado nada é por acaso. E quando um local é alvo de incêndio é porque provas deveriam ser destruídas ou, então, trata-se de um recado macabro a quem de direito.
Coincidência ou não, faltando poucas horas para a deflagração da Operação Carbono 14, 27ª fase da Operação Lava-Jato, o escritório de contabilidade de Meire Poza, que trabalhou para o doleiro Alberto Youssef como “esquentadora” de propinas por meio de notas fiscais de origem duvidosa, foi incendiado.
Meire Poza colaborou com as investigações sobre o maior e mais ousado esquema de corrupção de todos os tempos, que durante uma década sangrou os cofres da Petrobras, repassando às autoridades informações sobre documentos que pertenciam ao doleiro-delator e que estavam sob sua responsabilidade.
Um dos documentos, um contrato de empréstimo no valor de R$ 6 milhões entre o empresário Marcos Valério Fernandes de Souzae uma empresa de Ronan Maria Pinto, empresário de Santo André preso nesta sexta-feira, foi o ponto de partida da Carbono 14. O tal documento foi apreendido no escritório de Poza em 2015 durante ação da PF.
Em depoimento ao Ministério Público Federal, em dezembro de 2012, Marcos Valério, condenado a mais de quarenta anos de prisão na Ação Penal 470 (Mensalão do PT), afirmou que dirigentes petistas lhe pediram R$ 6 milhões, que seriam destinados a Ronan Maria Pinto.
Segundo o outrora caixa forte do Mensalão do PT, o dinheiro serviria para comprar o silêncio do empresário, que vinha chantageando Lula, Gilberto Carvalho e José Dirceu com a possibilidade de revelar o esquema de corrupção em Santo André, que culminou na morte do ex-prefeito Celso Daniel, em 2002.
Abalada com a notícia sobre o incêndio, Meire Poza disse, em entrevista ao jornal “O Estado S. Paulo”, que não há como relacionar o episódio com a Operação Carbono 14. “Estou sem chão, sem rumo. Não tive coragem nem de entrar lá”, afirmou.
“Não faço ideia de como isso pode ter ocorrido. Se foi intencional ou não. Já tinha pedido uma proteção para os investigadores da Lava-Jato, mas nunca quiserem me ajudar”, emendou a contabilista.
Na seara do crime organizado tudo é possível, desde que alguém tenha perdido ou sido prejudicado. Quando os marginais começam a acertar contas e a “trocar chumbo” é porque há muito mais coisas erradas do que imagina a vã filosofia.