Outrora braço direito de Dilma Rousseff e ex-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra volta ao radar dos escândalos de corrupção que chacoalham o País. Investigada na Operação Zelotes – que decifra um cipoal de malandragens no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) e a venda de medidas provisórias a lobistas do setor automotivo –, Erenice teve o nome mencionado por alguns delatores da Operação Lava-Jato. O que coloca a ex-escudeira de Dilma na berlinda.
Nesta quarta-feira (13), o presidente da construtora Engevix, José Antunes Sobrinho, selou acordo de delação premiada no escopo da Lava-Jato. Flagrada no Petrolão, a Engevix sempre recorreu aos serviços de Erenice Guerra, que se apresenta como advogada, mas age como lobista. Por conta disso, da desenvoltura profissional e das movimentações bancárias, a lobista travestida de advogada não demorou muito para entrar na mira do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF).
O atento COAF identificou nas contas do escritório de Erenice Guerra uma movimentação financeira volumosa, entre agosto de 2011 e abril de 2015: R$ 23,3 milhões, sendo R$ 12 milhões a crédito e R$ 11,3 milhões a débito. A exemplo de outros “companheiros” que agora se dedicam ao lobby na capital dos brasileiros, Erenice recebe, via de regra, seus honorários através de um escritório de advocacia. O “trem pagador” é o conceituado advogado Eduardo Antônio Lucho Ferrão, repassou R$ 3,5 milhões ao escritório de Erenice por meio de contrato de consultoria.
Se o contrato de Erenice com Ferrão pode até não gerar suspeitas, a relação da ex-ministra com a Engevix é no mínimo suspeita. A construtora pagou a bagatela de R$ 1,2 milhão pelos serviços da ex-chefe da Casa Civil. Contudo, nesse contabilidade milionária do escritório de Erenice Guerra há um detalhe que pode ser a chave do enigma: um repasse de R$ 218 mil a Silas Rondeau.
Ex-ministro de Minas e Energia, cargo que deixou a toque de caixa, em 2007, no vácuo de graves acusações de corrupção, Silas Rondeau conseguiu, naquele momento, manter os cargos de conselheiro da Petrobras, que ocupava desde 2006, e da BR Distribuidora, subsidiária da estatal petrolífera.
Ligado ao lobista-palestrante Lula, amigo da ainda presidente Dilma Rousseff e um dos apaniguados de José Sarney, o caudilho maranhense, Silas Rondeau atuava como elo entre o governo federal e a empreiteira.
Em 2008, um ano após ser escorraçado do Ministério de Minas e Energia, Rondeau foi contratado pela Desenvix, empresa do grupo Engevix. Em novembro de 2010, não por acaso, a Engevix foi contratada pela Petrobras para construir oito cascos de plataformas para a exploração de petróleo na Bacia de Santos. Valor do negócio à época: US$ 3,4 bilhões. Esse contrato bilionário era o que faltava para Silas Rondeau ser indicado para compor o Conselho de Administração da Desenvix.
O que pode parecer um mero detalhe é uma peça importante nesse imundo quebra-cabeça. À época, Rondeau era um executivo de jornada dupla, pois ao mesmo tempo defendia os interesses da Petrobras e do grupo Engevix. No contraponto, não por acaso, Erenice Guerra integrou o Conselho Fiscal da Petrobras, cliente da Engevix, que contratou Rondeau.
Mas o imbróglio não acaba tão facilmente. José Antunes Sobrinho, presidente da Engevix, foi preso, em 21 de setembro de 2015, na Operação “Nessum Dorma”, 19ª fase da Lava-Jato. Denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro, Antunes Sobrinho é réu em duas ações penais, uma delas ao lado de José Dirceu de Oliveira e Silva, que encontra-se preso no Complexo Médico-Penal de Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. Acontece que José Dirceu manteve uma espécie de “joint venture” do lobby com Erenice Guerra.
Resumindo, se José Antunes Sobrinho – que teve a prisão domiciliar revogada e voltou para a cadeia – contou à força-tarefa da Lava-Jato apenas metade do que sabe acerca dos esquemas de corrupção no âmbito do governo do PT, Brasília ficará pequena para Erenice Guerra e Silas Rondeau.