Dilma já estuda antecipar eleições, mesmo se vencer a batalha do impeachment no Senado

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Mesmo que saia vitoriosa do julgamento do impeachment no Senado – algo considerado impossível –, a presidente Dilma Rousseff já admite que poderá ser obrigada a acatar a proposta de antecipação da eleição presidencial ainda para 2016. Apesar disso, a cúpula nacional do PT tem pressionado o Palácio do Planalto a apoiar a iniciativa antes o desfecho do processo de impedimento, após o eventual afastamento temporário da presidente do cargo.

Em conversas reservadas, a petista admite que, após ficar até 180 dias longe da Presidência, e substituída por Michel Temer, suas condições de governabilidade tornar-se-iam impraticáveis. De acordo com interlocutores palacianos, Dilma só teria chance de voltar ao cargo após o afastamento caso o vice-presidente se revele um fracasso no período de interinidade.

Conforme um assessor presidencial, no caso de Temer demonstrar um “mínimo de competência” para administrar a crise múltipla e crescente, torna-se completamente inviável o retorno de Dilma à presidência.

Tentando não constranger Dilma, o comando do PT decidiu paralisar, antes da votação de admissibilidade do impeachment, a defesa da proposta. Até mesmo o ex-presidente Lula tem afirmado a aliados e assessores que a decisão de pregar a tese antes da primeira votação deve partir de Dilma, não dele.

Contudo, o comando petista insiste que o partido deve abraçar a alternativa logo após Michel Temer assumir o poder, o que pode acontecer a partir da segunda quinzena de maio. Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, pretende realizar no dia 15 de maio a votação em plenário sobre o afastamento temporário da chefe do Executivo federal.

O objetivo petista é reforçar o discurso de que Temer não tem legitimidade para assumir o cargo e que, portanto, seria necessária a realização de nova eleição presidencial. Além de manter o vice sob pressão, a defesa da proposta tentaria enfraquecer sua administração interina.

A avaliação do Partido dos Trabalhadores é que a iniciativa possa atrair o apoio inclusive de parte do PSDB, que não concorda com a participação da sigla no eventual governo peemedebista. Para dirigentes petistas, o partido acabou relegado a um papel de coadjuvante do processo político diante do protagonismo do PMDB.


Na última terça-feira (19), senadores do PT, PSB, Rede e PPS apresentaram Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para que as eleições presidenciais sejam realizadas simultaneamente com as eleições municipais que ocorrerão em outubro deste ano. Só esqueceram que a matéria é inconstitucional e que depende da renúncia do impedimento de Dilma e da renúncia de Temer.

A iniciativa teve apoio de 30 senadores e foi protocolada na Secretaria-Geral do Senado. A matéria será analisada pelas comissões temáticas e terá de ser aprovada em dois turnos pelo Senado e pela Câmara. Os próprios defensores da tese avaliam que é muito difícil deputados e senadores chegarem a um consenso sobre a proposta.

Como reação à ideia, Michel Temer iniciou ofensiva para esvaziar o apoio à proposta, sobretudo na Câmara, uma vez que a mesma conta com a simpatia de Renan, adversário do vice-presidente dentro do PMDB.

Em reuniões com ministros peemedebistas, Dilma Rousseff recebeu o diagnóstico de que precisa se preparar para se ausentar do cargo, uma vez que são altas as chances de o Senado aprovar seu afastamento temporário.

A petista foi aconselhada a “esquecer” a primeira fase do processo, que já estaria perdida, e se concentrar no julgamento final. Em resposta, a presidente ressaltou que, apesar do cenário desfavorável, ainda acredita ter chances de reverter a perda do mandato na etapa derradeira do processo.

Para auxiliares tanto petistas quanto peemedebistas, no entanto, a opinião da presidente seria um “otimismo irrealista”. Típico de quem sabe que perdeu o jogo, mas não admite a derrota. Caso típico de um bom e confortável divã do analista mais próximo.

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