Enquanto pilotavam a maior roubalheira da História – o assalto aos cofres da Petrobras e de outras estatais –, os petistas flanavam na teoria criminosa e de conveniência de que os fins justificavam os meios. A farra bandoleira está em seu epílogo e agora a teoria de ocasião é que qualquer meio serve para evitar o fim. Por isso os governistas, regiamente recompensados pelo Palácio do Planalto, agem na Comissão Especial do Impeachment com estoque extra de pieguice.
Como se fosse o arauto da moralidade universal, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) integra o quarteto da intimidação fincado na Comissão Especial do Impeachment pelo governo terminal de Dilma Rousseff. O ex-cara pintada tem como parceiros de missão rasteira os também camaradas Humberto Costa (PT-PE), Gleisi Helena Hoffmann (PT-PR) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM).
A bordo da sua conhecida desfaçatez e cumprindo à risca o script palaciano, Lindbergh, durante sessão da Comissão Especial do Impeachment, que nesta sexta-feira (29) é palco para a defesa da indefensável, Dilma Rousseff, aproveitou uma brecha para fustigar o relator do processo, senador Antonio Anastasia (PSDB-MG). Professor de Direito Constitucional e ligado ao também senador Aécio Neves, o frouxo, Anastasia é acusado de, enquanto governador de Minas Gerais (2010-2014), ter ultrapassado o limite orçamentário extra (10% além do previsto), descumprindo o que determina a legislação.
Como sabem os leitores, esse tipo de expediente era comum até que o Tribunal de Contas da União estabeleceu, no final de 2014, que tal prática não mais seria aceita a partir de então. De tal modo, a denúncia contra Dilma enfoca decretos de suplementação orçamentária editados em 2015 e sem a devida autorização do Congresso. Até mesmo Lula e FHC fizeram uso desse expediente, mas o volume financeiro a que recorreu Dilma é uma ode ao absurdo. Mesmo assim, os petistas creem que tudo ocorreu dentro da normalidade e que impeachment é golpe.
Que o Brasil padece de incoerência todos sabem, mas é preciso doses mínimas de responsabilidade antes de aceitar uma missão suicida como a imposta pelo Palácio do Planalto a alguns dos seus comandados – e Lindbergh Farias é um deles. O senador petista não tem um grama de moral sequer para criticar quem quer que seja. E há motivos de sobra para tanto.
Atendo-se ao belíssimo e mágico estado de Minas Gerais, o governador Fernando Pimentel, filiado ao PT e companheiro de armas de Dilma, é alvo da Operação Acrônimo, da Polícia Federal, e acaba de nomear a esposa Carolina Oliveira, também na mira da PF, como secretária de Estado, o que lhe confere o chamado foro privilegiado. Malandragem idêntica à adotada pela presidente da República para blindar o malandro Lula, que não demorará muito para contemplar o raiar do astro-rei de forma geometricamente distinta.
Gatunagem na Baixada
Fazendo escala no Rio de Janeiro, mais precisamente em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, Lindbergh não escapou da regra que acomete nove entre dez políticos dessa barafunda chamada Brasil. O parlamentar petista responde a processo no Supremo Tribunal Federal por corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha – requisitos básicos para ser um comunista respeitado.
Ex-chefe de gabinete da Secretaria de Finanças de Nova Iguaçu, Elza Elena Barbosa Araújo, em depoimento prestado ao Ministério Público do Rio de Janeiro, disse que, logo no início do mandato de prefeito, em 2005, Lindbergh montou esquema de captação de propina junto às empresas contratadas pelo município. O valor da propina, segundo a depoente, na maioria das vezes alcançava a cifra de R$ 500 mil por contrato. O dinheiro da corrupção chegava à sala de Elza em bolsas e maletas trazidas por empresários. Na sequência, o dinheiro era usado no pagamento das despesas pessoais do impoluto (sic) Lindbergh Farias, que quer ensinar hermenêutica a um dos mais conceituados juristas do País e dar lição de moral nos adversários.
Segundo os depoimentos de Elza Araújo, o esquema criminoso também custeava as prestações de um apartamento da mãe de Lindbergh, Ana Maria, em edifício em Brasília. A ex-chefe de gabinete revelou que, em 11 de julho de 2005, teve de sair da prefeitura com R$ 15 mil em dinheiro para pagar uma das prestações do imóvel da mãe do então prefeito. A diferença, R$ 4.380, foi depositada na conta bancária de Lindbergh. Ela também revelou que a propina abastecia a conta da empresa Bougainville Urbanismo, de propriedade de Carlos Frederico Farias, irmão de Lindbergh que mora na Paraíba, terra natal do agora senador. A empresa recebeu, de acordo com a depoente, quatro depósitos que totalizaram R$ 250 mil.
Mão na lama
Para não estender a epopeia criminosa que teve lugar em Nova Iguaçu e aterrissando na Operação Lava-Jato, Lindbergh Farias, o moralista de plantão, é alvo de inquérito no âmbito do Petrolão. O que o credenciou para frequentar o seleto grupo de “companheiros” de legenda. Ainda nos domínios do STF, Lindbergh é alvo de inquérito por envolvimento no maior escândalo de corrupção de que se tem notícia, o Petrolão
Segundo Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras e um dos primeiros delatores da Operação Lava-Jato, Lindbergh recebeu R$ 2 milhões do esquema criminoso. E o próprio senador petista confirmou isso em depoimento.
Ao prestar depoimento em 30 de março de 2015, Lindbergh confirmou ter encontrado com Costa em um hotel da Zona Sul carioca. Do encontro participou João Cláudio Genu – ex-assessor do PP e ex-braço direito de José Janene, mas o petista negou a presença do mesmo.
Dias depois, em 9 de abril do mesmo ano, Genu afirmou ter conhecido o petista entre janeiro de 2013 e janeiro de 2014. Já Paulo Roberto Costa, também em depoimento, disse que a reunião ocorreu em um hotel de Ipanema com a presença de Lindbergh, Genu e mais três pessoas. Segundo o ex-diretor da Petrobras, Genu elaborou, durante o encontro, uma tabela com as doações oficiais para a campanha de Lindbergh. E disse que intermediou o pagamento de R$ 2 milhões para a campanha de Lindbergh ao Senado.
Em outras palavras, considerando o vasto telhado de vidro que ostenta, Lindbergh Farias deveria ater-se à própria insignificância, não sem antes ter recusado a tarefa hercúlea de defender Dilma e dar lições de moral nos que acusam a presidente da República, que em termos fiscais pedala mais do que nas ruas do entorno do Palácio da Alvorada.