Cutait está pronto para assumir a Saúde, mas amigo de bons vinhos pode azedar convite

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Se é possível dizer que na política há ecumenismo, o médico Raul Cutait é um dos ecumênicos. Isso porque o professor da Universidade de São Paulo (USP) e integrante da cúpula do Hospital Sírio-Libanês transita sem constrangimentos em todas as correntes ideológicas.

Cotado para assumir o Ministério da Saúde em eventual governo de Michel Temer, o médico já autorizou emissários a informarem o vice-presidente da República que aceita o desafio. Considerando que o Ministério da Saúde é a pasta do governo federal que detém a maior fatia do orçamento, há um cipoal de interessados no cargo.

Cutait sabe que, apesar do rechonchudo orçamento, pouco poderá fazer pela saúde pública em tempo tão escasso. Afinal, se aprovado o impeachment de Dilma em caráter definitivo, o governo Temer durará pouco mais de dois anos. Tempo curto demais para mudar a trágica realidade da saúde brasileira.

Tão frequentador da colônia libanesa de São Paulo quanto Raul Cutait, o vice-presidente da República aguarda uma sinalização do Partido Progressista para indicar o conhecido médico para ocupar o Ministério da Saúde. O partido ainda resiste à pressão para referendar o nome de Cutait, pois crê que o melhor seria indicar o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), cujo currículo emoldurado por alguns escândalos fala por si só.

A grande questão que coloca em xeque a indicação de Raul Cutait é que na bagagem o médico levaria ninguém menos que Gilberto Miranda, ex-senador e um dos alvos da Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, que desmontou um esquema de corrupção e tráfico de influência comandado por Rosemary Noronha, que se apresentava aos interlocutores como a amásia de Lula.

Milionário e dono de currículo também polêmico, Gilberto Miranda, que é ligado a José Sarney, é muito próximo de Raul Cutait. Há quem garanta que entre ambos exista uma tênue relação familiar por conta das respectivas esposas, mas é a milionária e invejável adega do ex-senador que impera nessa conexão.


Conhecido por ser um profissional nos subterrâneos da política brasileira, Gilberto Miranda está afastado há anos de Brasília, mas jamais perdeu o poder de influenciar em importantes e polêmicas decisões na capital dos brasileiros.

Esse malabarista que age nos bastidores da política verde-loura começou como massagista do então presidente João Batista Figueiredo, foi sócio de Orestes Quércia em alguns negócios, é amigo do sempre polêmico Paulo Salim Maluf, foi próximo de Celso Pitta e tem como padrinhos de casamento ninguém menos que Marli e José Sarney. Na era Sarney, Miranda mandou e desmandou na Zona Franca de Manaus, onde fez fortuna. Na sequência, já no governo bandido de Fernando Collor, coube ao seu irmão, Egberto Batista, cuidar dos interesses da família.

Como se não bastasse, Gilberto Miranda esteve envolvido em escândalos notórios, mas esquecidos pela opinião pública, como o Caso Sivam e o polêmico Dossiê Cayman, que na opinião do UCHO.INFO foi uma obra de ficção sobre um fato verdadeiro.

Gilberto Miranda é o que se pode chamar de especialista em “comer pelas beiradas”. Mirandinha, como é conhecido nas entranhas do poder, pagou, em algumas ocasiões, para ser suplente de senador. No alvo estiveram Carlos Alberto Di Carli, Gilberto Mestrinho e Amazonino Mendes – todos políticos amazonenses.

Voltando ao tema principal… Nada contra o médico Raul Cutait, pelo contrário, mas o que saúde brasileira menos precisa no momento é a presença, mesmo que esporádica, de Gilberto Miranda no ministério responsável pelo setor. Até porque, há na órbita da pasta problemas demais para serem solucionados. Se Cutait, no caso de ser nomeado ministro, souber fechar a porta para Mirandinha, tudo muito bem. Do contrário, vade retro.

De tal modo, que o vice-presidente Michel Temer, antes de nomear o próximo ministro da Saúde, reflita sobre o velho ditado “diga com quem andas e direi quem és”. Afinal, na política uma coisa puxa a outra, um interesse conecta-se a outro e assim vai.

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