Vice-presidente da República e a poucos dias de assumir o principal gabinete do Palácio do Planalto – de forma interina até que o Senado decida sobre o mérito do processo de impeachment de Dilma Rousseff –, o peemedebista Michel Temer mostrou-se surpreso ao tomar conhecimento da decisão tomada por Waldir Maranhão (PP-MA), presidente interino da Câmara dos Deputados, de anular a votação que abriu caminho para o julgamento do impedimento da petista.
Temer não chegou à condição de vice-presidente da República por ser bom samaritano ou estreante na política. Trilhou sua carreira sabendo lidar com alcateia que domina a política nacional, sempre preocupado com cuidados extremos nas inevitáveis negociações de bastidores, muitas vezes não republicanas. Ou seja, soube existir no meio e escolher seus parceiros de acordos.
Conhecedor dos meandros da política e ciente do modus operandi do PT, partido com o qual conviveu com maior proximidade durante os últimos cinco anos, Michel Temer poderia ter evitado o pior, mas preferiu não ouvir pessoas próximas, as quais não frequentam o meio político, mas que lhe avisaram sobre o perigo iminente.
Michel Temer foi informado ainda na sexta-feira (6) de que um golpe estava sendo tramado pelo Palácio do Planalto para tentar inviabilizar o impeachment e por consequência a sua posse na Presidência. Ele já estava em São Paulo, para onde viajou com o objetivo de comemorar o Dia das Mães, quando foi alertado. Mesmo no sábado (7), o vice-presidente preferiu dar de ombros aos apelos insistentes de uma pessoa que o aconselhava a preocupar-se com a possibilidade de uma manobra radical por parte do governo.
O vice-presidente tinha agendado um encontro com Waldir Maranhão para terça-feira (10) e apostava na permanência do deputado maranhense no comando da Câmara como forma de evitar uma crise político logo nas primeiras semanas de sua interinidade da Presidência. Tivesse dado ouvidos às informações, por certo teria se livrado do susto provocado por decisão que acabou em nada.
Por outro lado, muitos veículos de comunicação tentaram chamar a atenção da opinião pública, ao longo desta segunda-feira (9), com informações supostamente exclusivas, mas nem tudo o que foi noticiado como sendo um furo de reportagem superou os detalhes das notícias do UCHO.INFO, que conhecia os bastidores do golpe.
Um canal de televisão, que colocou seu time de badalados jornalistas em campo para apurar o que de fato aconteceu nos últimos dias, antes da decisão obtusa de Waldir Maranhão, bateu cabeça no momento de levar ao ar análises políticas que nem de longe correspondiam à realidade dos fatos. Mais uma vez iludiu o telespectador com um espetáculo midiático que esbarrou no “achismo”, sem levar em consideração o respeito ao telespectador.