Há algo estranho na Polícia Federal. Até recentemente, o atual diretor-geral da PF, Leandro Daiello Coimbra, era incensado por todos os delegados da corporação, que viam no chefe um sinal de independência e força do órgão.
Com a saída de Dilma Rousseff e a estreia do governo interino de Michel Temer, o novo ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, afirmou que Daiello será mantido no cargo. Nos bastidores especula-se que o diretor-geral da PF deve permanecer à frente da PF até os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, que acontecem em agosto próximo. Há quem garanta que Leandro Daiello pode se aposentar, mas sua eventual saída deve acontecer a pedido do próprio governo.
Pelo menos dois nomes aparecem na lista de possíveis substitutos de Daiello: Roberto Troncon e Disney Rosseti. Acontece que ambos não agradam a corporação. Troncon é visto pelos delegados federais como uma continuação da administração de Leandro Daiello, que comanda a PF desde 2011 e teve papel importante na condução da Operação Lava-Jato. Se Troncon for “mais do mesmo”, a Lava-Jato estaria a salvo.
Rosseti é visto com desconfiança pelos delegados e agentes federais, por representar uma possível interferência nas investigações que desmontaram o maior esquema de corrupção de todos os tempos, o Petrolão.
A Associação dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) prometem fazer ume eleição interna e entregar ao presidente interino Michel Temer uma lista tríplice, a exemplo do que ocorre com a Procuradoria-Geral da República.
Essa mudança repentina na aprovação de Leandro Daiello é estranha, principalmente porque ventilou-se a possibilidade de o novo governo tentar esvaziar a Lava-Jato, já caciques do PMDB – alguns integram a equipe ministerial de Temer – estão na lista de investigados da Lava-Jato.
Considerando que Daiello esteve è frente da PF durante a Operação Lava-Jato, deflagrada em março de 2014, nada melhor do que o governo mantê-lo no cargo. Qualquer mudança no comando da corporação produzirá a fumaça da suspeição.