Matéria da Folha sobre conversa entre Renan e Sérgio Machado serviu para ajudar o senador

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A matéria do jornal “Folha de S. Paulo” sobre a gravação da conversa entre Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, e Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, é o que se pode chamar de muito batuque para pouco samba. Essa reportagem, que fere a credibilidade da Folha, se não ajuda Renan Calheiros, por certo não piora sua já complicada situação. O máximo que o jornal conseguiu foi vender mais exemplares e ter mais acessos no seu sítio eletrônico, o que não é um mal negócio. Contudo, em termos de informação a matéria é fraca.

Na conversa com Sérgio Machado, o maior arroubo cometido por Calheiros foi defender uma mudança na lei que institui a colaboração premiada, algo defendido por muitos criminalistas e juristas, que entendem ser necessário que o réu esteja em liberdade para decidir sobre o tema. Na opinião do UCHO.INFO a delação premiada é um instrumento importante para investigar o crime organizado, com por exemplo o escândalo do Petrolão, que durante uma década funcionou de forma deliberada na Petrobras e irrigou os bolsos de políticos e empreiteiros, assim como fez a alegria de partidos e campanhas eleitorais.

O diálogo entre o senador Romero Jucá (PMDB-RR), apeado do Ministério do Planejamento, e Sérgio Machado foi um pouco mais apimentado, mas em nenhum momento sugeriu a intenção efetiva de obstruir o trabalho da Justiça. Por questões político-partidárias, a nova oposição já pediu a cabeça de Jucá, apresentando no Conselho de Ética do Senado uma representação contra o peemedebista, com direito a pedido de cassação de mandato, assim como os mais exaltados aduladores de Dilma Rousseff, a afastada, querem o que o senador roraimense seja preso, assim aconteceu com Delcídio Amaral.

Delcídio garante não ter recebido propina e muito menos manter contas bancárias no exterior, mas o fato que embasou sua prisão foi um crime incontestável. No momento em que ofereceu dinheiro e um plano de fuga em troca do silêncio de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, o agora senador cassado cometeu um crime grave: o de tentativa de obstrução da Justiça.


Se Delcídio Amaral recebeu propina na esteira do Petrolão não se sabe, assim como é difícil afirmar que Romero Jucá e Renan Calheiros são inocentes, mas é impossível qualquer tipo de comparação entre os dois casos. Fato é que o imbróglio envolvendo Jucá reverberou muito mais do que o devido por conta necessidade do PT de se agarrar a algo que permitisse a retomada do discurso do golpe e da insana defesa de Dilma.

Ademais, imaginar que a conversa entre Jucá e Machado é caso para a prisão preventiva do peemedebista, como defendem alguns exaltados dilmistas, é abrir brecha para que Aloizio Mercadante seja condenado à prisão perpétua. Afinal, Mercadante, enquanto chefe da Casa Civil, ofereceu dinheiro ao assessor de Delcídio Amaral para que o então senador não selasse acordo de colaboração premiada ou maneirasse na delação. Isso sim é crime passível de prisão.

Quem conhece com mais intimidade a política brasileira no âmbito federal sabe que nessa seara inexistem inocentes, assim como não brotam bem intencionados. Os que nela chegam o fazem na esteira de acordos espúrios e investimentos (leia-se doações) que exigem contrapartida. Sem essa fórmula a política brasileira não anda, até que uma profunda faxina acontece no setor.

De tal modo, aos brasileiros de bem cabe a árdua missão de reduzir homeopaticamente a peçonha da classe política, até o ponto em que a palavra corrupção desapareça do dicionário do cotidiano. Até porque, ninguém mais aguenta ouvir falar de roubalheira aqui e acolá.

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