O conteúdo das gravações feitas por Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, em conversas com Romero Jucá, Renan Calheiros e José Sarney são menos comprometedores em termos jurídicos do que se imagina. Em nenhuma das conversas há uma ação clara de obstrução dos trabalhos da Justiça, apenas uma sugestão de que algo poderia ser feito para evitar que o processo de Machado, investigado na Operação Lava-Jato, acabasse nas mãos do juiz federal Sérgio Fernando Moro, em Curitiba.
Se nos áudios vazados há alguma conversa mais “condimentada” até agora, essa é a de Romero Jucá, que sugeriu a Machado um pacto político de largo espectro para que a Lava-Jato não alcançasse proporções ainda maiores. Como sempre afirma o UCHO.INFO, no Brasil política só existe no rastro de dinheiro em grande volume, o que abre caminho para a corrupção deliberada.
Sérgio Machado diz estar arrependido de ter gravado alguns correligionários – são caciques peemedebistas –, mas alega que sua atitude se deve ao desejo de proteger os próprios filhos. Essa desculpa não convence, pois Machado ficou durante treze anos na presidência da subsidiária da Petrobras por indicação do PMDB.
Na verdade, Machado recorreu a esse expediente, que certamente lhe custará caro, porque sua tentativa inicial de delação premiada fracassou no vácuo da inconsistência das informações. De tal modo, foi instado a apresentar provas mais convincentes, o que culminou nas tais gravações ambientais.
O que foi vazado até o momento é parte do que foi gravado por Sérgio Machado, que pode ter registrado conversas com outros integrantes da cúpula do PMDB, como Henrique Eduardo Alves, ministro do Turismo, e outros ocupantes de destacados cargos no governo de Michel Temer.
A força-tarefa da Operação Lava-Jato teme que o vazamento do conteúdo das gravações possa atrapalhar as investigações, mas é preciso identificar quem vazou o material e com que objetivo. Afinal, somente o próprio Sérgio Machado e o Ministério Público Federal tinham as gravações.
Se a intenção era bombardear o governo Temer, inviabilizando a gestão interina do peemedebista, o tiro pode ter escapado do alvo e produzido muito mais vítimas do que planejado. Isso porque outros partidos teriam sido citados nessas gravações, como, por exemplo, PT e PSDB. Sem contar que as estripulias de Machado ocorreram ao longo dos governos Lula e Dilma.
De acordo com afirmações do ex-senador José Sarney, as delações de Marcelo Odebrecht e de executivos da empreiteira baiana são uma “metralhadora” e devem arrastar a afastada Dilma Rousseff para o olho do furacão. Essa possibilidade, que cresceu nos últimos meses, já era considerada por muitos, pois depoimentos de outros empreiteiros envolvidos no Petrolão colocaram a Odebrecht em situação de extrema dificuldade. Nesse enredo de filme policial, Lula, o lobista-palestrante, continua em silêncio, possivelmente porque um acordo de bastidor para poupá-lo foi acertado com alguns delatores ou seus representantes.