(*) Carlos Brickmann
No meio de todos os problemas, muitos brasileiros guardavam um vergonhoso orgulho secreto: nossos safados, nossos ladrões, nossos espertalhões eram insuperáveis, os melhores do mundo. Ninguém como eles para dar um nó em pingo d’água, enganar os trouxas que, coitados, só sabem lidar com gente honesta, fingir-se de mortos para roubar o coveiro.
Alguns dos campeões da turma do jeitinho mostram agora o que realmente são: babacas. Contam tudo o que deveriam manter em segredo para gravadores da Polícia Federal. Os bobinhos não perceberam sequer que o país mudou e que alguns dias a menos na prisão são mais valiosos do que a ligação com qualquer coronelzinho metido a mandachuva, que não é capaz sequer de livrar os amigos atemorizados pelo juiz Sérgio Moro. Aliás, os ministros do Supremo que criam mais problemas para o Governo não foram escolhidos pelo caro leitor, mas pelos sábios do próprio Governo.
Quem escolhe desse jeito a autoridade que pode mandar prendê-lo ou soltá-lo saberá escolher direito um ministro que cuide da Mandioca?
E o pessoal não tem modos. Com o país atento aos corruptos, nem assim decide passar um tempinho sem roubar, nem ao menos para preservar os amigos que o nomearam. E toque o presidente Temer a demitir ministros recém-nomeados ou a justificar a manutenção de outros que deveriam ter caído. Ministro da Transparência tomando atitudes obscuras é demais.
Vergonha? Que é isso?
Sua Excelência, o agora ex-ministro da Transparência Fabiano Silveira, era conselheiro do Conselho Nacional de Justiça. Embora sua função fosse fiscalizar coisas erradas, deu fartos conselhos a Renan Calheiros e a Sérgio Machado, ex-Petrobras, sobre como driblar a Operação Lava-Jato. Mas, se conselho fosse bom, valeria pixulecos, né?
Ainda bem que não deu certo.
Repetindo
Mas o Governo insiste: depois do afastamento de Dilma, apoiado pelas manifestações contra a corrupção, Temer nomeia um ministro do Planejamento que não resiste a duas semanas de cargo, derrubado que foi por uma gravação; escolhe um líder do Governo que enfrenta suspeitas até de homicídio e um ministro da Transparência que dava conselhos a quem queria driblar a Lava Jato e caiu antes de sua primeira quinzena de serviço.
Não parece provocação?
Fim de festa
O melhor futebol do mundo tomou de 7, os mais notórios corruptos do país se deixam gravar contando tudo, como se ladroeira só fosse completa depois de confessada. Só nos resta orgulhar-nos da arte popular, mas sempre com um pé atrás, temendo o dia em que até isso nos será roubado.
Dinheiro de volta
A Advocacia Geral da União está pedindo na Justiça algo como R$ 11 bilhões, a título de devolução, por empreiteiras, de parte do que foi ordenhado à Petrobras no caso do Petrolão. Empreiteiras atingidas: Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, UTC. O pedido se baseia na porcentagem habitual de superfaturamento das obras. Falta ainda calcular o quanto será pedido de devolução referente a outros escândalos.
Força feminina
Atenção: a partir de setembro, duas mulheres comandarão a Justiça brasileira. A ministra Carmen Lúcia será a presidente do Supremo Tribunal Federal; e a ministra Laurita Vaz presidirá o Superior Tribunal de Justiça.
Tudo bem explicadinho
Por que a Petrobras perdeu tanto valor de mercado, apesar da competência de sua equipe técnica? A explicação, simples e bem fundamentada, está na coluna Diário do Poder, de Cláudio Humberto (www.claudiohumberto.com.br):
“A gigante Saudi Aramco, da Arábia Saudita, a maior petrolífera do mundo, que produz um de cada oito barris de petróleo do planeta, está avaliada em R$ 6,5 trilhões e tem 65 mil funcionários. A Petrobras, que nem chega perto da Aramco em produção de petróleo, está avaliada no mercado em cerca de R$ 60 bilhões, se tanto, e paga salários a 249 mil pessoas, das quais 84 mil são concursadas e 165 mil terceirizadas. “A Shell, a Exxon e a British Petroleum, outras gigantes do petróleo, empregam juntas 262.000 pessoas, 13 mil a menos que a Petrobras”.
Continua: “Pedro Parente terá um baita desafio: a Petrobras opera 7 mil postos no mundo; a Shell tem 44 mil, mas lucra trinta vezes mais”. “Mesmo depois cortar 30 mil funcionários e colocar mais 12 mil na fila da demissão voluntária, a Petrobras ainda tem 84 mil concursados”.
“Em 2014, antes do Petrolão, a Petrobras lucrou US$ 1 bilhão; a Shell, US$ 14 bilhões; a Exxon, US$ 32,5 bilhões e a BP, US$ 12,1 bilhões.”
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.