A senadora Gleisi Helena Hoffmann (PT-PR) precisa urgentemente calibrar a mira da própria fala. Na quarta-feira (1), a senadora paranaense ocupou tribuna do Senado para denunciar a delação de José Adelmário Pinheiro, ex-presidente da OAS e conhecido como Léo Pinheiro. Segundo Gleisi, a colaboração premiada de Pinheiro teria sido “travada” por “inocentar Lula”.
Contrariando o discurso desnorteado da petista, o jornal “O Globo”, na edição desta quinta-feira (2), revela que a delação de Léo Pinheiro será “mortal” para Lula e, provavelmente, colocará o ex-metalúrgico na cadeia.
Entre outros crimes, o homem da OAS foi responsável pela reforma do apartamento triplex em Guarujá e pelas benfeitorias no misterioso sítio de Atibaia, imóveis que Lula nega a propriedade.
O depoimento de Léo Pinheiro pode esclarecer, definitivamente, esse ponto e explicitar os benefícios concedidos por Lula à empreiteira para que a mesma sentisse motivação para lhe conceder esses caros e ilegais “agrados”. De tal modo, o besteirol recitado por Gleisi na tribuna do Senado serviu apenas para comprometer, ainda mais, a já difícil situação de Lula, a qual preocupa sobremaneira seus advogados.
Nas palavras de pessoa que participa das tratativas da delação, as denúncias de Pinheiro são “mortais” para o petista, segundo informação publicada pela coluna “Radar”, da Veja, e confirmada pelo jornal “O Globo”.
Léo Pinheiro começou a discutir um acordo de delação com procuradores de Curitiba no início deste ano, mas a negociação não avançou. As informações prometidas pelo empreiteiro não interessaram à força-tarefa naquele momento. Em rodada de negociações, agora com procuradores de Brasília, as conversas evoluíram a ponto de o acordo de colaboração premiada estar a um passo de ser firmado.
No entanto, Léo Pinheiro ainda não prestou qualquer depoimento formal no âmbito da delação. Fontes ouvidas pelo “O Globo” estimam que as negociações devem se prolongar por mais três meses. O empreiteiro também promete falar sobre as mensagens telefônicas encontradas em seu celular, inclusive as conversas com o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha.
Pinheiro já foi condenado a 16 anos e quatro meses de prisão pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, mas recorre da decisão em liberdade, enquanto é monitorado por tornozeleira eletrônica.
A expectativa da Lava-Jato é que a eventual delação de Léo Pinheiro esclareça a relação da OAS com Lula, a quem é atribuída a propriedade de um confortável apartamento praiano, que permanece em nome da empreiteira. A OAS gastou aproximadamente R4 1 milhão para reformar o imóvel de acordo com as necessidades da família Lula da Silva, mas ao final o ex-presidente disse, em tom de deboche, que o apartamento era “um triplex Minha Casa, Minha Vida”.
A força-tarefa da Operação Lava-Jato suspeita que a reforma tenha sido uma forma de retribuição por vantagens indevidas na participação do esquema de desvios de dinheiro da Petrobras. A empreiteira fechou contratos de mais de R$ 7 bilhões com a estatal entre 2007 e 2012.
O ex-presidente nega também ser dono do sítio Santa Bárbara, em Atibaia, no interior de São Paulo, que frequenta com a família desde 2011, quando deixou a Presidência da República. O sítio está em nome de Fernando Bittar e Jonas Suassuna, sócios do filho do ex-presidente, Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, na empresa BR4 Participações. O Ministério Público Federal acredita que a OAS tenha feito obras de contenção de um lago e comprado móveis para a cozinha. A construtora Odebrecht também teria participado da reforma do local.
Os negócios de Lula com as empreiteiras são alvo de investigação da Lava-Jato, que suspeita que o petista tenha sido um dos beneficiários do esquema na Petrobras. Na 24ª fase da operação, em março, Lula foi levado coercitivamente para prestar esclarecimentos à Polícia Federal. Autorizada por Moro, a condução coercitiva do ex-presidente foi alvo de críticas de petistas, assim como as escutas telefônicas, divulgadas posteriormente.