Há nas entranhas do poder muito mais mazelas do que imagina a vã filosofia. O Brasil está de ponta-cabeça por causa da gravíssima e múltipla crise (econômica, política, institucional, ética e de competência), mas algumas decisões, que para muitos beiram o inexplicável, têm razão de ser.
Com o processo de impeachment de Dilma Rousseff avançando no Senado Federal, de acordo com o que determina a lei e com o que decidiu o Supremo Tribunal Federal (STF), aumentou a movimentação nos bastidores em busca de uma saída para salvar o mandato da petista.
Enquanto a tropa de choque da presidente afastada e o responsável por sua defesa, o petista José Eduardo Martins Cardozo, apostando em chicanas jurídicas na esperança de que o ministro Ricardo Lewandowski, presidente do STF e comandante maior do processo de impedimento, decida em favor de Dilma, na instância máxima do Judiciário o jogo torna-se cada vez mais bruto e pesado, mesmo que silencioso.
Em 5 de maio passado, quando suspendeu o mandato do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e afastou-o da presidência da Câmara, o ministro Teori Zavascki se antecipou a uma manobra estranha que era operada por Lewandowski e Marco Aurélio Mello. Os dois últimos estavam propensos a levar a plenário uma Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) impetrada pela Rede, que no documento requeria o afastamento de Cunha da presidência da Câmara dos Deputados e, por conseguinte, a anulação de todos os atos do peemedebista no cargo. Ou seja, a ideia era anular inclusive os atos que permitiram a tramitação do processo do impeachment de Dilma.
Agora, diante do serpenteio que o processo de impeachment ganhou no vácuo das insanas interferências petistas, Teori Zavascki mais uma vez se antecipa para evitar um mal maior. O ministro, que na Corte é relator dos processos decorrentes da Operação Lava-Jato, tornou pública a delação premiada de Nestor Cerveró, ex-diretor internacional da Petrobras que às autoridades não poupou palavras para arrastar Dilma ao olho do furacão em que se transformou o maior escândalo de corrupção do planeta. Com isso, Ricardo Lewandowski terá de decidir dentro da lei como comandante do processo de impeachment.
Com as acusações de que Dilma sabia do “propinoduto” instalado na Petrobras, que abasteceu os bolsos dos “companheiros” e os cofres do seu partido, e tinha conhecimento de todos os detalhes acerca do absurdo negócio que resultou na compra da refinaria de Pasadena (Texas), também conhecida como “Ruivinha” por causa do alastramento da ferrugem nas instalações, qualquer movimento estranho no escopo do processo de impeachment será suicídio político. Assim, Ricardo Lewandowski terá de decidir dentro da lei como comandante do processo de impeachment.
No contraponto, enquanto coloca mais lenha na fogueira de Dilma, o ministro-relator continua sem saber o que fazer no caso do responsável maior pelo Petrolão: o lobista-palestrante Lula. Com a perda do chamado “foro privilegiado”, Lula deve ser julgado, no âmbito da Lava-Jato, pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba. A decisão cabe a Teori, que insiste em demorar sem qualquer explicação convincente para tanto. O Brasil precisa urgentemente ser passado a limpo, mas nessa esperada assepsia alcançar Lula é condição primordial.