O discurso dramático e rocambolesco de Gleisi Helena Hoffmann, proferido nesta segunda-feira (27) a partir da tribuna do Senado, não surtiu os efeitos esperados. Isso porque a Justiça Federal de São Paulo manteve a prisão de Paulo Bernardo da Silva, marido da senadora paranaense.
Ex-ministro do Planejamento (governo Lula) e das Comunicações (primeiro governo Dilma), Paulo Bernardo foi preso na última quinta-feira (23), em Brasília, na Operação Custo Brasil, desdobramento da Operação Pixuleco II (18ª fase da Lava-Jato), acusado de integrar e se beneficiar de esquema de corrupção que desviou R$ 100 milhões de servidores federais que contraíram empréstimos consignados.
No discurso, Gleisi não se fez de rogada e, de olho na decisão da Justiça Federal, acionou a dramatização ao afirmar: “Conheço Paulo há muitos anos. Sei das suas virtudes, e dos seus defeitos. Sei que ele não faria uso do dinheiro alheio em benefício próprio […] Tenho certeza de que não participou ou se beneficiou do esquema que o estão acusando. Ele sabe que eu não o perdoaria, que a sua mãe não o perdoaria”.
Em outro trecho, Gleisi foi além e disparou: “Nem em pesadelos eu seria capaz de supor que estaria aqui, nesta tribuna, para defender meu marido, pais dos meus filhos e de caminhada política, de uma prisão. Prisão injusta, ilegal, sem fatos, sem prova, sem processo […] estou sentindo na própria pele, o que aflige, diariamente, milhares de pessoas, homens e mulheres atingidos pelo abuso do poder legal e policial”.
Como sempre afirma o UCHO.INFO, o Brasil é uma democracia e por isso é livre a manifestação do pensamento. E Gleisi pode dizer o que quiser para proteger o marido, mas não tem o direito de ignorar a delação premiada de Alexandre Romano, o Chambinho, um dos integrantes do esquema criminoso, que às autoridades detalhou a roubalheira.
De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), a empresa contratada pelo Ministério do Planejamento para gestão de crédito consignado a servidores federais, a Consist, cobrava pelo serviço muito além do que deveria, mas repassava 70% do valor para ao PT e a políticos, dentre os quais Paulo Bernardo.
Segundo as investigações, entre 2009 e 2015 o valor da propina alcançou a incrível marca de R$ 100 milhões. “Dezenas de milhares de funcionários públicos foram lesados”, afirmou o superintendente da Receita Federal em São Paulo, Fábio Ejchel.
Decisão
Para piorar a situação de Paulo Bernardo e anular o dramalhão encenado por Gleisi, a decisão da 6ª Vara Federal de São Paulo de negar pedido de liberdade ao ex-ministro foi tomada no vácuo da audiência de custódia do advogado Guilherme de Salles Gonçalves, ligado ao casal petista e preso no domingo (26) ao chegar de Lisboa.
“O próprio investigado Guilherme, em dado momento, parece ter admitido que, às vezes, o Fundo Consist pagava algumas despesas para ‘PB’, que seria Paulo Bernardo. Na sua alegação, isto não seria algo ilícito, porém prática comum de seu escritório, que seria especializado em questões eleitorais”, informou o juiz responsável pelo caso.
Segundo a decisão, o pagamento a Paulo Bernardo é um “fato que pode ter múltiplas interpretações”. “Desta forma, os indícios, por enquanto, subsistem.”