Nem é, e sem nunca ter sido

(*) Carlos Brickmann

carlos_brickmann_10A pesquisa CNI/Ibope sobre o Governo Temer é devastadora: 44% consideram que Temer e Dilma merecem deles a mesma confiança. Milhões foram às ruas derrubar uma presidente catastrófica, a presidente do Petrolão, para botar no lugar um que merece a mesma confiança que ela.

Esperava-se de Temer não só modos mais polidos que os de Dilma – o que, aliás, não é difícil – mas um Governo diferente, firme, preocupado com as contas públicas, que mantivesse os ladrões longe do cofre. Mas seu Governo, como o de Dilma, não se preocupa muito com as contas públicas – e, prevendo um buraco de R$ 170 bilhões, não hesitou em queimar R$ 120 bilhões para agradar deputados, senadores e pessoal jurídico.

Deixou os suspeitos de sempre nas posições de sempre. E, em pouco mais de um mês, precisou demitir três ministros, todos pelos motivos de sempre. Claro, não são todos culpados. Porém, numa emergência como a nossa, é preciso não depender apenas dos tribunais, mas ser reconhecido pela honradez.

Firmeza? Apoiou a criação de 14 mil cargos públicos, desistiu. Decidiu reformar a Previdência, desistiu. Anunciou cortar o número de ministérios e fechar o Ministério da Cultura, desistiu.

Parafraseando Neném Prancha, personagem de Nelson Rodrigues, arrecuou o time para evitar a catastre. Se continuar assim, atacará sempre para trás, só recuando. Terá a catastre, agora pelo nome integral: catástrofe.

Dinheiro sai

Houve uma decisão de Temer seguida inteiramente, sem hesitação, sem recuos: o excelente reajuste de 41,47% a servidores do Judiciário e do Ministério Público – o aumento, a propósito, foi proposto pelos beneficiários. O custo de tudo alcança R$ 25 bilhões até 2019, data do final do ajuste. Mas como poderia o Governo pechinchar com quem manda investigar, faz as denúncias e julga os processos?

Dinheiro fica

Não pergunte por que há dinheiro para certas carreiras e nunca sobra muito para os professores e a Educação em geral. Raros são os governantes que, quando se aposentam, decidem voltar à escola.

Os números…

O Valor, jornal sério e bem feito, informa que Michel Temer estava preocupado com a pesquisa CNI/Ibope, mas se tranquilizou ao ler a pesquisa e tomar conhecimento de seus números, Disse: “O índice de aprovação em 13% veio na margem esperada”. Fantástico: o cavalheiro chega à Presidência levado por manifestações gigantescas e pouco mais de um mês depois está feliz com 13% de aprovação. Ora, 13% de aprovação é tão bom que um número parecido demoliu Dilma.

… os números

Número, às vezes, parece predestinado. Dilma teria se livrado do impeachment se obtivesse 171 votos de deputados – sim, 171, número do artigo do Código Penal que trata de estelionato. Agora, terminou o depoimento das testemunhas de defesa de Dilma (a última foi ouvida na sexta) na Comissão Especial do Impeachment, Quantas foram as testemunhas? Neste nosso reino encantado das Mil e Uma Noites, com políticos opinando e tudo, um número adequadíssimo: 40.

Do jeito que a coisa vai

Pode-se gostar ou não do pastor Silas Malafaia, mas fatos são fatos, documentos são documentos. Malafaia conta os fatos sobre o projeto “Fala, Zé – turnê Sul e Sudeste”. O projeto foi proposto há dez anos pela então esposa do ator José de Abreu e aprovado de ponta a ponta. Agora, os documentos: diz a página do ministério da Cultura referente a 2011, a última sobre o caso, que o projeto está inadimplente, “não respondeu a diligência da prestação de contas”.

Qual o tamanho do problema? A peça conseguiu captar todo o valor previsto, R$ 299.400,00, integralizados totalmente pela Petrobras.

Vai-vem

No mais, como diria o presidente Temer, “bis repetita placent”, as coisas repetidas agradam. Carlinhos Cachoeira foi preso. Fernando Cavendish, da construtora Delta, está sendo procurado, o lobista Adir Assad também é alvo da Operação Saqueador, da Polícia Federal.

Nomes conhecidos, acusações conhecidas, interrogatórios realizados repetidas vezes. Se as acusações são graves o suficiente para prisões temporárias, por que não estão presos há anos, poupando o custo de buscá-los novamente?

Dúvidas

A Procuradoria Geral da República quer saber se Renan Calheiros recebeu propina no Exterior. Vale palpite?

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

apoio_04