Definitivamente o calcanhar de Aquiles do Partido dos Trabalhadores é departamento financeiro. Depois de os ex-tesoureiros Delúbio Soares e João Vaccari Neto serem alvos de processos judiciais, agora é a vez de Paulo Ferreira sacramentar sua condição de investigado da vez. Preso na Operação Custo Brasil, que levou à prisão o ex-ministro Paulo Bernardo da Silva (marido de Gleisi Hoffmann), Ferreira foi alvo, na manhã desta segunda-feira (4) de mandado de prisão no escopo da Operação Abismo.
Deflagrada pela Polícia Federal nesta segunda-feira, a 31ª fase da Operação Lava-Jato tem como foco a apuração de licitação direcionada, pagamento de valores indevidos a servidores da Petrobras e repasse de recursos a partido político em virtude de contratos, como o da reforma do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes), na Ilha do Fundão, Zona Norte do Rio de Janeiro.
De acordo com as autoridades envolvidas na Operação Abismo, há fortes indícios de prática de crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e fraude a licitação “num contexto amplo de sistemático prejuízo financeiro imposto à Petrobras”.
As investigações, embasadas no acordo de leniência da Carioca Engenharia e os de colaboração premiada dos executivos da empresa, apontam para a formação de cartel na disputa por três obras da Petrobras em 2007: uma sede administrativa em Vitória, o CIPD (Centro Integrado de Processamento de Dados), no Rio, e o Cenpes. Além da Carioca Engenharia, a OAS, a Construbase, a Construcap e a Schahin Engenharia ficaram com a última obra pelo Consórcio Novo Cenpes.
Para o Ministério Público Federal, a construtora WTorre, que não participou dos ajustes, apresentou proposta com preço inferior ao das vencedoras do certame. As empresas teriam pagado R$ 18 milhões para que a empreiteira saísse da disputa, permitindo que o consórcio renegociasse o preço com a Petrobras.
O valor do contrato em questão foi de aproximadamente R$ 850 milhões. Além dos ajustes e fraude na licitação, houve pagamento de propina a funcionários da diretoria de Serviços da Petrobras e a Paulo Ferreira.
Foram identificados pagamentos ilícitos a diversos operadores de propina: R$ 16 milhões ao empresário Adir Assad, já condenado na Lava-Jato, investigado em CPI sobre o bicheiro Carlos Cachoeira e denunciado sob suspeita de lavagem de dinheiro em obra do governo de São Paulo; R$ 3 milhões para Roberto Trombeta e Rodrigo Morales, delatores na operação e ligados à empreiteira OAS; US$ 711 mil para Mario Góes, também delator; e R$ 1 milhão para Alexandre Romano, ex-vereador do PT cuja delação baseou a Operação Custo Brasil. No total, os repasses alcançaram R$ 39 milhões entre 2007 e 2012.
Em depoimento de colaboração premiada, executivos da Carioca Engenharia reconheceram a fraude à licitação e o pagamento de propinas, crimes comprovados pelos investigadores com a identificação de contratos fictícios e transferências bancárias ilícitas.
Alexandre Romano, conhecido como “Chmabinho”, disse aos investigadores que intermediou propinas em favor de Paulo Ferreira, agente do esquema no PT. O pagamento, de acordo com Romano, se deu através de contratos fictícios entre suas empresas e pessoas físicas e jurídicas relacionadas ao ex-tesoureiro petista, entre elas um blog e uma escola de samba.
Ex-deputado federal pelo PT do Rio Grande do Sul (2012 a 2014), Paulo Ferreira é casado com Tereza Campello, ex-ministra de Desenvolvimento Social e Combate à Fome do governo Dilma.
A Operação Abismo, que acontece em São Paulo, Rio de Janeiro e no Distrito Federal, cumpre um mandado de prisão preventiva, quatro de prisões temporárias, sete de condução coercitiva e 23 de busca e apreensão. Até o momento, a PF prendeu temporariamente Edson Coutinho, ex-funcionário da Schahin Engenharia, no Rio de Janeiro, e Roberto Capobianco, um dos donos da Construcap, em São Paulo.