A situação do ex-ministro Paulo Bernardo da Silva, marido da senadora Gleisi Helena Hoffmann (PT-PR), está cada vez mais complexa. Relatório da Polícia Federal, no âmbito da Operação Lava-Jato, destaca mensagens trocadas, em 2014, entre Otávio Marques de Azevedo, então presidente da Andrade Gutierrez, e Paulo Bernardo, que na ocasião ocupava a cadeira de ministro das Comunicações do governo Dilma.
Gleisi, a mais estridente defensora de Dilma Rousseff no Senado, onde tramita processo de impeachment contra a petista, está implicada na Lava-Jato e em outros esquemas de corrupção do governo do PT. Foi acusada de corrupção por seis delatores do Petrolão e indiciada por corrupção passiva, juntamente com o marido, na Polícia Federal.
O apartamento em que o casal reside em Brasília – imóvel funcional do Senado – foi alvo de buscas da PF em junho passado, na Operação Custo Brasil. O ex-ministro, que chegou a ser preso – mas colocado em liberdade dias depois por decisão do ministro Dias Toffoli (STF) – é suspeito de envolvimento no esquema Consist, que surrupiou de R$ 100 milhões de servidores federais aposentados que recorreram a empréstimos consignados.
Como se o imbróglio fosse pouco até então, a Polícia Federal avalia que o conteúdo dos textos resgatados do celular do empreiteiro da Andrade Gutierrez, que fez acordo de delação premiada para se livrar da prisão, indica uma suposta pressão do ex-ministro ‘por depósito’.
“As mensagens de 30 de agosto de 2014 e 3 de setembro de 2014 parecem sugerir que Paulo Bernardo estaria questionando Otávio de forma velada acerca de depósito, conforme se observa. Em 30 de agosto de 2014, Paulo Bernardo envia: ‘Doutor Otavio, bom dia! Confirma nossa conversa para o dia dois?’ Otávio responde: ‘Confirmo.’ E Paulo Bernardo envia: ‘Obrigado. Abraço.’ No dia 3 de setembro de 2014 Otávio envia mensagem: ‘Confira pois caiu agora!!!”, anota a Polícia Federal.
A sequência de mensagens do dia 30 de agosto começa às 15h09. Paulo Bernardo diz a Otávio Azevedo. “Doutor Otavio, bom dia! Confirma nossa conversa para o dia dois?”
Às 16h24, o retorno do presidente da Andrade Gutierrez. “Confirmo.”
Um minuto depois, o ministro das Comunicações agradece. “Obrigado. Abraço.”
Em 3 de setembro, Otávio Azevedo avisa Paulo Bernardo. “Confira pois caiu agora!!!”
“Obrigado, farei isso. Abraços”, escreve o então ministro das Comunicações.
Segundo a PF, o aplicativo Whatsapp de Otávio Marques de Azevedo continha uma série de mensagens com o interlocutor “Paulo Ministro Bernardo/ João Rezende”.
“Observa-se que em algumas mensagens Otávio chama o interlocutor de Ministro. Possivelmente se refere ao então Ministro das Comunicações Paulo Bernardo da Silva”, apontam os investigadores.
“As diversas mensagens sugerem a realização de encontros/reuniões entre Paulo Bernardo e Otávio Marques”, conclui o relatório da PF. “Chama a atenção a forma como Paulo Bernardo trata Otávio (‘Doutor’). Também a mensagem de 21 de maio de 2014 em que Paulo Bernardo diz que prefere conversar em outro lugar, que não o trabalho.”
Naquele 21 de maio de 2014, durante troca de mensagens com o empreiteiro, Paulo Bernardo pede. “Eu prefiro conversar em outro lugar, que não o trabalho. Se vc vier mais cedo, falamos fora. Ou depois que vc sair de lá também. Outra alternativa: vou ao Rio na segunda, podemos falar lá, perto da hora do almoço.”
Otávio responde. “Devo estar no Rio na segunda, as 10h e posso ir aonde for conveniente. Se preferir terei o maior prazer de recebê-lo na AG, escritório no prédio novo da FGV na praia de Botafogo, inclusive para almoçar. Forte abraço.”
“Então vou lá almoçar com vc. Pode me mandar o endereço? Acho que sei qual é o prédio”, retorna Paulo Bernardo.