Engana-se quem pensa que o impeachment da presidente afastada Dilma Vana Rousseff, a ser decidido pelo Senado Federal na segunda quinzena de agosto, é a solução para todos os problemas brasileiros. No máximo pode-se afirmar que com o impedimento da petista o presidente em exercício Michel Temer poderá tomar decisões definitivas com o objetivo de tirar a economia brasileira do atoleiro da crise, que, é bom lembrar, não é pequeno e muito menos raso.
Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles afirmou, em entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo”, que caso o Congresso Nacional não aprove a proposta de criação de um teto para os gastos públicos, o Brasil terá escolhido uma opção preocupante e terá um preço alto a pagar, ou seja, novas rodadas de aumento de impostos e juros mais altos por longo período, o que travará o crescimento.
“O Brasil terá feito uma opção que acho errada, grave, de não controlar a evolução da sua dívida pública, e pagará um preço por isto nos próximos anos”, alertou Meirelles, ao defender a aprovação da emenda constitucional que limita o crescimento dos gastos públicos ao índice de inflação do ano anterior.
“Se não for aprovada, não haverá outra saída, porque nos próximos anos, para financiar este aumento das despesas públicas, só restará aumentar imposto”, completou.
O ministro sinalizou ser contra um novo programa de refinanciamento de dívidas de empresas com o Fisco, ao dizer que “a tentativa de atender a todos é que levou à deterioração da situação fiscal e prejuízo de todos”.
Meirelles afirmou que cumprirá a meta de fechar o ano com déficit de R$ 170,5 bilhões, apesar da alta de despesas e da queda das receitas que levaram o governo a rever projeções na última semana. “Quem viver verá”, afirmou.
Henrique Meirelles, que foi presidente do Banco Central no governo do ex-presidente Lula, não quis fazer comentários sobre o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, porém afirmou que o fim da “incerteza” permitirá uma “recuperação maior e mais rápida” da economia.
Tudo ou nada
A criação de um teto para gastos públicos é condição primordial para tratar a economia verde-loura no médio prazo, medida que certamente recuperaria a credibilidade do País e traria maior volume de investimentos estrangeiros, algo importante para um país que ainda deve muito em termos de infraestrutura, por exemplo.
A aprovação dessa medida depende da boa vontade de deputados e senadores, que em agosto terão olhos apenas para o impeachment de Dilma, ou seja, a turbulência política obrigará um país em crise a esperar mais um mês, se é que alguma decisão favorável será tomada depois disso.
Aos brasileiros de bem, que sonham com um Brasil minimamente melhor e mais justo, cabe o dever de cobrar dos parlamentares a votação imediata dessa importante matéria, pois não é mais possível conviver com um cenário de crise e em meio às incertezas políticas. A aprovação dessa matéria não apenas tira do contribuinte o peso de novos impostos, mesmo que pontuais, mas permite ao País planejar o seu futuro sem o temor decorrente das incertezas mais sérias.
A proposta de criação de impostos, mencionada por Henrique Meirelles, é tecnicamente correta, mas é mais um duro golpe contra o cidadão. Contudo, não há como continuar gastando sem que existam os recursos correspondentes. Em suma, é preciso limitar os gastos, desde que aos mesmos sejam incorporados cortes drásticos.
De igual modo, não se pode aceitar que o governo continue a anunciar déficits fiscais bilionários, como se isso fosse algo normal, pois em algum momento o cenário econômico será de rompimento. Com a economia em recessão pelo segundo ano seguido, o consumo caiu e a arrecadação encolheu.
Nesse tabuleiro político-econômico não há mágica. Ou aceita-se passivamente a criação de novos impostos, sem que ocorra a melhoria da contrapartida, ou cobra-se dos políticos uma postura responsável e célere em relação ao tema. Até lá, como prega o dito popular, será briga de foices no escuro.