Não é difícil imaginar o que acontece quando um político fanfarrão administra uma das maiores cidades brasileiras como se fosse uma barraca de praia. Esse é o caso de Eduardo Paes (PMDB-RJ), prefeito do Rio de Janeiro, sede da Olimpíada de 2016.
Diante da recusa da delegação da Austrália de se hospedar na Cidade Olímpica em virtude das péssimas condições dos apartamentos destinados aos atletas e equipes técnicas, Paes zombou dos australianos, dizendo que o local era muito melhor e mais bonito do que o de Sidney. Ou seja, bazófia típica de alguém que aposta no faz de conta como cartilha do cotidiano.
Eduardo Paes é um fanfarrão conhecido, mas abusou da ironia ao afirmar que não demoraria a colocar um canguru diante dos apartamentos destinados aos australianos para que se sentissem em casa. E não foi preciso muito tempo para que o diretor de comunicação do comitê olímpico australiano, Mike Tancred, rebatesse a declaração do prefeito carioca dizendo que trocaria o canguru por um encanador.
Um dia após a infame brincadeira, Eduardo Paes reconheceu que os australianos reclamaram com razão. “Minha declaração foi no sentido de que a delegação da Austrália tinha de fato enfrentado problema e é compreensível [a reclamação], e que a gente tinha que ajustar isso. E aí eu quis dizer que a gente ia dar um ambiente australiano”, disse o prefeito do Rio durante conferência de negócios no Museu do Amanhã, na zona portuária.
Paes lembrou que a responsabilidade pela Vila dos Atletas é do comitê Rio 2016, mas que a prefeitura enviou ao local equipes da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) e da Secretaria de Conservação para ajudar nos reparos necessários.
“A situação hoje está muito melhor do que ontem, mas de fato o prédio da Austrália era o pior”, afirmou. “Estive no prédio da Austrália na sexta-feira e vi que estava ruim. E foi aí que resolvemos intervir”.
Escolhida prefeita da Cidade Olímpica, Janete Arcain, ex-medalhista e ex-jogadora de basquete, disse que o único problema nos apartamentos era vazamento de água, como acontece em qualquer imóvel. Ou seja, lamentavelmente o improviso já foi eleito como o grande legado dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, pois só uma pessoa irresponsável é capaz de afirmar que vazamentos hidráulicos são normais em imóveis novos.
Uma das preocupações das autoridades é que os estrangeiros que vierem ao Brasil levem uma boa imagem do país, mas é impossível que isso ocorra por causa de um conjunto de motivos que todos os brasileiros tão bem conhecem. O Brasil tornou-se o paraíso dos corruptos, das obras superfaturadas, da incompetência do Estado e da roubalheira desenfreada, o que reflete imediatamente nos mais básicos direitos dos cidadãos.
Apenas para ilustrar a impossibilidade de alguém levar do Brasil uma boa impressão, um lutador de jiu-jistu da Nova Zelândia relatou nas redes sociais que foi alvo de um sequestro-relâmpago praticado por homens fardados. De acordo com o atleta Jayson Lee, no domingo (24) ele foi obrigado a entrar em um carro e fazer um périplo por caixas eletrônicos para sacar dinheiro. Isso porque alguém disse que nesse momento o Rio era o local mais seguro do planeta.