Que a Polícia Federal e a senadora Gleisi Helena Hoffmann (PT-PR), a “Barbie do Petrolão”, têm entendimentos distintos acerca de corrupção todos sabem. Acusada por seis delatores da Operação Lava-Jato de ter recebido dinheiro (R$ 1 milhão) do esquema criminoso que durante uma década na Petrobras, Gleisi afirmou, recentemente, que o seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo da Silva (Planejamento e Comunicações) jamais ficou com um bem que não era seu.
A declaração, sabidamente piegas, foi feita por ocasião da prisão de Paulo Bernardo na Operação Custo Brasil, que investiga um esquema que surrupiou R$ 100 milhões de servidores federais, inclusive aposentados, que recorreram aos empréstimos consignados.
O esquema, que começou a funcionar no Ministério do Planejamento na época em que o petista respondia pela pasta, foi operado pela empresa Consist, contratada para gerenciar os empréstimos e o pagamento das parcelas, que repassava 70% do valor do contrato ao Partido dos Trabalhadores e a alguns de seus próceres, entre eles Paulo Bernardo.
Nesta terça-feira (26), a Polícia Federal indiciou o ex-ministro por corrupção passiva e organização criminosa, alegando que as investigações apontaram com clareza a materialidade do crime e a autoria de Paulo Bernardo. O Ministério Público Federal, que recebeu o indiciamento feito pela PF na última sexta-feira (22), decidirá sobre o oferecimento de denúncia à Justiça.
Ao todo 22 pessoas foram indiciadas por diversos crimes: organização criminosa, corrupção ativa, corrupção passiva, tráfico de influência e lavagem de dinheiro. Entre os indiciados estão, além do ex-ministro do Planejamento, João Vaccari Neto e Paulo Ferreira, ambos ex-tesoureiros do PT.
De acordo com as investigações, Paulo Bernardo teria recebido R$ 7,5 milhões através de uma estrutura triangular montada a partir do escritório do advogado Guilherme de Salles Gonçalves, de Curitiba, que atende a senadora Gleisi Hoffmann e o marido e pagou muitas despesas e contas do casal petista.
A Operação Custo Brasil é um desdobramento da Operação Pixuleco II (18ª fase da Lava-Jato) e só foi possível por causa do acordo de delação premiada firmado pelo ex-vereador petista Alexandre Romano. Preso na Pixuleco II, Romano, conhecido como “Chambinho”, detalhou às autoridades a engrenagem criminosa que funcionava no Ministério do Planejamento e lesou milhares de servidores. “Chambinho” não poupou os que agora estão indiciados pela PF.
A advogada Verônica Sterman, que defende o ex-ministro, afirmou que não teve acesso aos documentos sobre o indiciamento, mas divulgou nota reiterando a inocência de seu cliente. “O ex-ministro Paulo Bernardo reitera que não participou ou teve qualquer ingerência na celebração ou manutenção do acordo de cooperação técnica celebrado autonomamente entre a Secretaria de Recursos Humanos do MPOG e as associações de Bancos e Previdência (ABBC e SINAPP). Também reitera que não recebeu qualquer quantia da Consist, direta ou indiretamente”, destaca a nota.
Preso em 23 de junho, Paulo Bernardo foi solto seis dias depois por determinação do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, que tem ligações viscerais com a cúpula do PT. A decisão de Toffoli causou indignação em muitos servidores do STF, mas foi efusivamente comemorada pela senadora.
Para quem regularmente regurgita discursos moralistas e acostumou-se a intimidar jornalistas que criticam sua atuação como parlamentar, Gleisi Hoffmann está construindo um considerável currículo familiar. Afinal, ela e o marido foram indiciados pela PF no caso da propina recebida do Petrolão.
Como se não bastasse, Gleisi ainda deve aos brasileiros uma explicação minimamente convincente sobre a nomeação de um pedófilo ao cargo de assessor especial na Casa Civil. Condenado a mais de cem anos de prisão por estupro de dezenas de garotas pobres e vulneráveis, Eduardo Gaievski, ex-prefeito de Realeza (PR), foi incumbido pela então ministra Gleisi de cuidar dos programas federais para crianças e adolescentes. Tudo no melhor estilo “raposa tomando conta do galinheiro”. Gaievski deve ser condenado a igual período de prisão (100 anos) na esteira dos outros crimes de pedofilia que cometeu usando o cargo de prefeito.