Lava-Jato: arrogância de João Santana e Mônica Moura ao deixarem a carceragem da PF foi afrontosa

(Paulo Lisboa - Folhapress)
(Paulo Lisboa – Folhapress)

Se desfaçatez fosse crime no Brasil, o marqueteiro João Santana e sua mulher e sócia, Mônica Moura, ainda estariam presos. O casal deixou a prisão na tarde desta segunda-feira (1) por determinação do juiz Sérgio Moro, responsável na primeira instância do Judiciário pelos processos da Operação Lava-Jato.

Com o mesmo sorriso debochado que exibiu ao chegar à carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, após ser preso, em 23 de fevereiro deste ano, na Operação Acarajé (23ª fase da Lava-Jato), o casal agiu de igual maneira, como se 160 dias na prisão nada representassem. Fora isso, Mônica Moura e João Santana tiveram de pagar fiança de quase R$ 32 milhões, valor que já estava bloqueado pela Justiça.

Santana ensaiou alguns sorrisos, mas preferiu manter o semblante fleumático de quem está acostumado a lidar com crises e a cuidar da imagem de candidatos mentirosos e adeptos do caixa 2. Mônica, por sua vez, não resistiu e, dentro do carro que a levaria ao aeroporto, respondeu aos fotógrafos com um rasgado sorriso, como se tivesse deixado a cadeia na esteira da inocência.

A aparência tranquila de ambos, que nem de longe exibia as consequências de mais de cinco meses de cárcere, foi mais uma galhofa com os brasileiros de bem, que indiretamente foram responsáveis por parte do dinheiro sujo que despencou nas contas bancárias internacionais da dupla. Afinal, o dinheiro da corrupção sai do bolso de cada contribuinte.


A forma quase espetaculosa como se deu a soltura de Santana e Moura contradita o valor da fiança estipulada pelo juiz Sérgio Moro, paga com dinheiro cuja origem ainda é duvidosa. No momento em que alguém aceita pagar o equivalente a US$ 10 milhões pela liberdade e ainda dá risada das limitações impostas pela Justiça – devolução de passaportes, proibição de trabalhar direta ou indiretamente em campanhas eleitorais e de contatar outros investigados na Lava-Jato – é porque há ainda muita coisa errada nas entranhas dessa epopeia imunda.

Em qualquer país minimamente sério, João Santana e Mônica Moura ainda estariam presos, mas é preciso compreender a necessidade de se cumprir o que manda a legislação em vigor. A democracia brasileira ainda é muito jovem e está em fase de amadurecimento, mas é importante que os brasileiros de bem cobrem dos políticos a transformação da corrupção em crime hediondo, sem direito a progressão de pena.

O Brasil perde anualmente R$ 200 bilhões em corrupção, mas a sociedade, que patrocina essa farra bandoleira, continua esperando que o Estado, como um todo, garanta os direitos básicos da cidadania, tão bem explicitados na Constituição Federal de 1988. É preciso pensar o País no logo prazo, mas começar a agir imediatamente.

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