“Resta Um”: nova fase da Lava-Jato mostra que política e corrupção são irmãs siamesas

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Confirmando as muitas matérias do UCHO.INFO sobre a relação extremamente próxima e promíscua entre o dinheiro da corrupção e o exercício da política, a Polícia Federal deflagrou nesta terça-feira (2) a Operação Resta Um, 33ª fase da Operação Lava-Jato.

Ao menos 15º policiais federais cumprem mandados na operação que tem como alvo principal a construtora Queiroz Galvão, suspeita de pagar R$ 10 milhões ao então presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra (PE), falecido em 2014. Dois executivos da empreiteira, Ildefonso Colares e Othon Zanoide, foram presos e são investigados, segundo as autoridades, “pela prática sistemática de pagamentos indevidos a diretores e funcionários da Petrobras”.

Guerra teria recebido a gorda propina para conter na CPI da Petrobras, que tramitou no Senado Federal em 2009, investigações de crimes cometidos no âmbito da estatal por empreiteiras que agora são alvo da Lava-Jato.

O nome de Idelfonso Colares foi mencionado na delação premiada do ex-deputado federal Pedro Corrêa (PE), condenado a 20 anos e 7 meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro na Lava-Jato. Segundo Corrêa, Francisco Dornelles, atual governador em exercício do Rio de Janeiro, recebeu R$ 9 milhões de Colares para estancar as investigações na CPI da Petrobras.

Ainda segundo Pedro Corrêa, que foi líder e presidente do Partido Progressista, legenda que tem o maior número de políticos investigados na Lava-Jato, a “operação aba” na CPI da Petrobras foi confirmada Zanoide Moraes Filho durante conversa com o doleiro Alberto Youssef.

De acordo com Corrêa, os dois executivos da Queiroz Galvão confirmaram o pagamento de R$ 10 milhões a Sérgio Guerra. A cifra saiu de um montante de R$ 37 milhões destinado ao PP, por orientação de Paulo Roberto Costa, então diretor de Abastecimento da Petrobras, sendo que ao entrega do dinheiro ficou a cargo de Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano. Costa e Baiano são delatores na Lava-Jato.


A “Resta Um” também investiga indícios de pagamento de propinas no exterior através de contas bancárias secretas. Os pagamentos teriam sido feitos pela Queiroz Galvão e pelo consórcio Quip, do qual a empreiteira era líder.

Igualmente no foco da 33ª fase da Lava-Jato, o consórcio Quip, responsável pela obra da Plataforma P53 da Petrobras, repassou, em 2006, R$ 2,4 milhões para o caixa 2 da campanha de Lula à reeleição. À época, o tesoureiro da campanha petista era José de Fillipi Júnior, que solicitou pagamento em espécie, conforme informou Ricardo Pessoa, dono da Construtora UTC, que integrava o consórcio Quip.

A procuradora da República Jerusa Viecili destaca que chama a atenção “a ousadia da empresa investigada, traduzida pela atuação profissional e sofisticada no pagamento de propinas em contratos públicos durante longo período de tempo, mediante a utilização de expedientes complexos de lavagem de dinheiro, inclusive no exterior”.

Terceiro colocado no ranking de contratos firmados com a Petrobras, com total de R$ 20 bilhões, a Queiroz Galvão não é estreante em investigações sobre corrupção. A empreiteira esteve na mira das operações Monte Carlo, Castelo de Areia e Navalha, sendo as duas últimas anuladas no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

O procurador da República Diogo Castor diz que as anulações de provas representam um incentivo aos criminosos que já participaram de comprovados esquemas de corrupção. “Infelizmente, se essas operações tivessem um mínimo de efetividade, talvez a Lava-Jato nem precisasse existir” destacou o procurador.

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