A guerra pelo poder continua sórdida e rasteira como sempre. Até porque, no Congresso Nacional, assim como em todas as Casas legislativas do País, prevalece o interesse político-partidário, a despeito das infindas necessidades do Brasil e dos brasileiros.
Líder do PSDB no Senado Federal, o paraibano Cássio Cunha Lima acredita que haverá um cenário difícil para o governo de Michel Temer depois do provável afastamento definitivo de Dilma Rousseff.
Cunha Lima destacou a apreensão que se dissemina pelo seu partido e deixa inquieto também o mercado financeiro. “Hoje, há um ambiente de tolerância, uma trégua forçada. Todo mundo compreende que, nessa fase de interinidade e de incertezas, não dá para fazer movimentos bruscos. Passado o impeachment, haverá uma frustração enorme, porque todos esperam que o governo adote medidas efetivas no rumo do ajuste fiscal. E essas medidas não virão. É ilusão pensar em medidas como teto de gastos públicos ou reforma da Previdência faltando um mês para as eleições municipais”.
O senador ainda ressaltou que “até outubro, o governo cozinhará as expectativas em banho-maria. Mas a paciência dos agentes econômicos está chegando ao final. O governo eleva as despesas, em vez de reduzi-las. Teremos uma janela estreita de 45 dias para aprovar alguma coisa antes do término do ano legislativo. Não será tarefa fácil. Se nada de efetivo for feito depois da eleição municipal, o crédito do governo Temer estará zerado. Nessa hipótese, em termos de credibilidade junto aos agentes econômicos, ele se aproximaria de Dilma”.
Diante de um cenário em que Dilma está sem apoio em seu próprio partido – e totalmente perdida – e Lula cada vez mais enrascado na Operação Lava-Jato, a situação poderia estar melhor para Temer. Contudo, a interinidade do PMDB foi abalada na última semana, quando, em entrevista, o novo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disparou: “Se o Michel for confirmado presidente, e o governo chegar a 50% de ótimo e bom, ele é que será o candidato do nosso campo, quer queira, quer não.”
Por outro lado, Temer ratificou que não tem a intenção de disputar a reeleição em 2018. Porém, até os aliados avaliam que sua negativa só merece crédito até certo ponto —o ponto de interrogação. Derrotados por Rodrigo Maia na disputa pela presidência da Câmara, deputados de partidos ligados ao chamado centrão levaram o pé atrás.
Não bastasse o fato de estarem excluídos do “campo” que Maia julga representar, a turma do centrão, liderada por Eduardo Cunha, ajudou a aprovar, há um ano, uma proposta de reforma política. Por 410 votos a 2, os deputados incluíram nesse projeto uma emenda prevendo o fim da reeleição. O texto se encontra no Senado, à espera de deliberação.
Com pelo menos três presidenciáveis nos seus quadros – Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra –, os tucanos ficaram incomodados com a antecipação do debate sucessório.
Cássio Cunha Lima ecoou em público algo que seus correligionários vinham afirmando em privado: “Há um sentimento no PSDB de que, passado o impeachment, será preciso avaliar quais são os reais propósitos do governo. Temer quer realmente cumprir o papel histórico de contribuir para encontrar as soluções dos problemas do Brasil? Ou será que ele deseja apenas liderar, como alguns sinais já estão indicando, um projeto de poder?”.
O senador ainda afirma que “se for um mero projeto de poder, vamos ter que repensar nosso envolvimento. Fizemos um gesto em nome do interesse público. Se fosse por um projeto de poder, abraçaríamos o nosso”. O PSDB ocupa dois ministérios sob Temer: Relações Exteriores (José Serra) e Cidades (Bruno Araújo). No Senado, a liderança do governo também é exercida por um tucano: Aloysio Nunes Ferreira (SP).
No início de sua interinidade, em maio, Temer rejeitou a ideia de acomodar José Serra na pasta da Fazenda. Alegou que a presença de um presidenciável no comando da pasta dividiria os aliados num instante em que a superação da crise requer união de esforços.
Os peessedebistas hoje enxergam não um, mas dois projetos de candidaturas presidenciais no comando da economia. Além do próprio Temer, há o ministro Henrique Meirelles (Fazenda). O líder do PSDB vocaliza o incômodo do seu partido: “Ser ministro da fazenda e se transformar em candidato a presidente pelo resultado de um trabalho, tudo bem. Mas ser candidato a presidente e querer ser ministro da Fazenda ao mesmo tempo não dá. São coisas inconciliáveis”.