Aumento do número de assaltos a carros fortes está relacionado ao caixa 2 de campanhas eleitorais

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Quando decidiu proibir as doações de pessoas jurídicas a partidos e candidatos, o Supremo Tribunal Federal deu inesperado impulso ao malfadado caixa 2. Presença constante na vida política nacional, o caixa 2 sempre foi um ilícito aceitado, inclusive pela Justiça Eleitoral, que insiste em fechar os olhos para as prestações de contas apresentadas por candidatos.

Além de ter desbaratado o maior esquema de corrupção de todos os tempos, o Petrolão, a Operação Lava-Jato revelou a nova faceta do caixa 2: mostrou que essa contabilidade paralela deixou para trás o dinheiro não declarado ao Leão, passando a ser alimentado por recursos advindos da corrupção sistêmica.

Foi com base nesse importante detalhe que o STF tomou a decisão de impedir as doações de empresas, abrindo espaço para o dinheiro ilícito, produto do crime. As eleições municipais deste ano serão marcadas por caixa 2, muito maior em volume de recurso do que em pleitos anteriores.

Com as limitações de gastos impostas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), muitas campanhas em todo o País terão de recorrer àqueles que têm dinheiro vivo em caixa. No momento em que a crise econômica devasta o País, dinheiro sonante só existe no caixa do crime organizado. Pode parecer assustador, mas facções criminosas que dominam os presídios e outros grupos delinquentes financiarão muitas campanhas, com chance de eleger vários candidatos. Ou seja, o Brasil corre o sério risco de assistir o avanço do crime organizado na seara política.


Compreender esse cenário bandoleiro que se avizinha não é tão simples, mas doses extras de atenção aos fatos do cotidiano permitem desenhar um horizonte não tão sombrio. Com a crise afetando vários setores, inclusive o tráfico de drogas, os futuros financiadores de campanhas ficaram sem suas criminosas fontes de recursos.

Como o crime organizado é ágil e mutante, não foi difícil migrar para outra modalidade de crime. Há muito sem pontear o noticiário verde-louro, os assaltos a carros fortes e a transportadoras de valores cresceram nos últimos meses, em especial nas últimas semanas. Isso porque os criminosos precisam de dinheiro vivo e ilícito para financiar candidatos.

Quem analisa os dados relativos a esses assaltos não demora a perceber que há algo estranho por trás da operação criminosa. A escalada desse tipo de crime só encontra explicação na brecha que o STF abriu para o malfadado caixa 2 imperar nas eleições.

Atuando com rapidez de um Estado paralelo, mas, em alguns casos, com a paciência do Estado de fato e de direito, o crime organizado age de forma planejada. Apostará verdadeiras fortunas – todas devidamente roubadas – em candidatos que mais adiante darão a devida contrapartida. Uma delas é a flexibilização de leis que beneficiem os integrantes das facções criminosas.

Apenas para ilustrar a matéria, a última ação de criminosos contra uma transportadora de valores (Prosegur) ocorreu em Ribeirão Preto, no interior paulista, e foi classificada pela polícia como cinematográfica. Os bandidos fugiram em um caminhão de carga levando a bagatela de R$ 51 milhões em dinheiro vivo, valor suficiente para eleger, por exemplo, uma dúzia de vereadores na maior cidade brasileira, São Paulo.

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