Janot deve aos brasileiros explicação convincente sobre episódio envolvendo a “ex-número 2” da PGR

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Quando o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, condenou o vazamento de suposto trecho da delação de Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, a opinião pública criticou-o com veemência, como se o magistrado tivesse a proteger um integrante da Corte. O UCHO.INFO saiu em defesa de Mendes, especificamente no caso em questão, mas não demorou muito para a verdade vir à tona.

A manobra foi engendrada com o objetivo escuso de salvar alguém poderoso que poderia parar atrás das grades se o acordo de colaboração premiada avançasse. Bastava um motivo para anular ou suspender a negociação do acordo, o que de alguma forma beneficiaria Lula, que está a um passo da prisão por conta da enxurrada de mentiras e desencontros que permeia aos escândalos do apartamento triplex em Guarujá e o sítio em Atibaia.

O Ministério Público, como explicita o próprio nome, existe para defender os interesses da sociedade, para vigiar o Estado em nome da população. Sendo assim, manobrar para salvar Lula é atentar contra o desejo dos brasileiros. Afinal, mais de dois terços da população querem punição implacável e exemplar ao protagonista do período mãos corrupto da história brasileira.

Ao Ministério Público não cabe interpretar a política, suas ideologias e embates, mas acompanhar a atuação do Estado, evitando que medidas sejam tomadas contra os interesses e direitos da população. O MP é feito por pessoas, as quais têm direito à livre manifestação do pensamento, desde que isso não interfira no exercício do cargo ou não macule o que determina a legislação que trata do funcionalismo público.

Contudo, não é assim que pensa e age a agora ex-vice-procuradora-geral da República, Ela Wiecko de Castilho (à esquerda na foto, com óculos escuros), que pediu para ser dispensada do cargo, nesta terça-feira (30). Wiecko tomou a decisão após um vídeo, em que ela aparece participando de um protesto contra Michel Temer, com direito a segurar uma faixa com as inscrições “Fora Temer” e “Contra o Golpe”, circulou pela rede mundial de computadores.


Questionada sobre sua participação no protesto, que teve lugar em Portugal, Wiecko disse que não falaria sobre o assunto, ma se limitou a dizer que os fatos ocorreram em junho passado, quando estava de férias. Uma explicação no mínimo ridícula, que permite aos brasileiros adotarem a mesma regra para suas transgressões.

Ela Wiecko tem o direito de preferir esse ou aquele governante, esse ou aquele partido, mas não pode fazer uma declaração desse naipe, que sugere a impunidade quando o agente público está de férias. O que disse a procuradora – continua no MPF porque é servidora concursada – dá margem a um político corrupto receber propina durante o recesso parlamentar, por exemplo, sem correr o risco da punição.

O cargo é de confiança e coube ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, convidar Wiecko para assumi-lo. Longe de questionar a competência e a idoneidade da procuradora, mas Janot certamente sabia da simpatia da número 2 da PGR pelo partido que acertadamente foi comparado a uma organização criminosa. E dados do próprio MPF provam isso.

O MPF ficou com a imagem arranhada no caso da estranha delação premiada de Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro. A situação piorou sobremaneira com a decisão de suspender a delação de Léo Pinheiro, enquanto outros tantos vazamentos não comprometeram delações anteriores. Aliás, a do próprio Sérgio Machado vazou, mas foi homologada em tempo recorde.

Contudo, a imagem da PGR sofreu um forte abalo com o episódio envolvendo Ela Wiecko, que até então cuidava das investigações envolvendo autoridades que tramitam no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Uma delas é a Operação Acrônimo, que tem como alvo o petista Fernando Pimentel, governador de Minas Gerais, que tal e qual a procuradora é contra o golpe que só os camaradas enxergam.

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