Ou os políticos mudam a maneira de atuar ou serão varridos pela opinião pública. O processo não é tão simples e muito menos imediato, mas um detalhe chamou a atenção nas duas mais importantes cidades brasileiras: São Paulo e Rio de Janeiro.
Na capital paulista, a abstenção nas eleições do domingo (2) alcançaram a marca de 21,84%, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral. Traduzindo em números absolutos, 1.940.454 eleitores deixaram de votar na mais acirrada e inédita eleição dos últimos anos. Somando os votos brancos (5,29%) aos nulos (11,35%), o índice chegou a 16,64%, quase que empatado com o petista Fernando Haddad (16,70%), barrado nas urnas logo no primeiro turno.
No Rio de Janeiro, o índice de abstenção foi o maior do País, chegando a incríveis 24,28%, ou seja, 1.189.187 eleitores não compareceram diante das urnas. O cenário de brancos e nulos é igualmente preocupante. Isso porque 5,50% dos 4.898.044 eleitores cariocas aptos a votar deixaram de indicar um nome nas urnas. No caso dos votos nulos, o índice chegou a 12,76%, que somado ao de nulos totaliza 18,26%.
Em todo o País, o índice médio de abstenção foi de 17,5%, mas em alguns municípios chegou a 30%. Esse cenário revela de forma cristalina o desinteresse dos brasileiros pela forma como a política vem sendo conduzida no País. Escândalos de corrupção, promessas não cumpridas, fisiologismo político e radicalismo ideológico contribuíram para esse quadro, que em breve terá reflexos devastadores.
Por outro lado, esses números servem de incentivo para uma imediata e necessária reforma política, que há muitos anos vem sendo alvo de promessas. O Brasil atravessa a pior crise econômica de sua história, mas a capacidade do brasileiro de ressurgir das cinzas com certeza venceria essa enorme barreira, mesmo que isso demorasse muito tempo.
A grande questão é a sequência de casos de corrupção, que não param de crescer em número de casos e de valores desviados. Fora isso, a forma como se dá a governança em todas as instâncias vem tirando o ânimo dos eleitores. O Brasil precisa urgentemente de gestão, mas os políticos insistem em politicagem barata. Existir é um ato político por si só, porém é preciso que a classe política atual se reinvente com celeridade, sob pena de o País correr o risco de ter de enfrentar oportunistas de plantão, sempre prontos para discursos mentirosos e de encomenda.