Acusado no escândalo da merenda, presidente Assembleia Legislativa de SP deveria se afastar

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Em determinadas circunstâncias, negar a realidade é assassinar a consciência. Ninguém é obrigado a produzir provas contra si, mas diante de fatos não há explicação que convença. Presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), o deputado estadual Fernando Capez (PSDB) complica-se cada vez mais no escândalo da merenda escolar, o “Merendão”.

Nesta terça-feira (11), Marcel Ferreira Júlio, acusado de ser o principal lobista da Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf), afirmou em depoimento na CPI da Merenda que Jeter Rodrigues e José Merivaldo dos Santos, ex-assessores de Capez (PSDB), cobraram propina da entidade que tem sede em bebedouro, no interior paulista.

Procurado pela polícia durante três meses, Marcel entregou-se às autoridades após seu pai, Leonel Júlio, também ser preso por envolvimento na fraude da merenda escolar.

Em depoimento de colaboração premiada, Marcel afirmou às autoridades que Capez cobrou um valor em dinheiro para agilizar a assinatura do contrato entre a Coaf e a Secretaria Estadual de Educação.

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Por outro lado, na CPI da Merenda, Marcel Júlio recusou-se, inicialmente a responder às perguntas dos deputados, mas acabou questionado pelo petista Alencar Santana Braga. O advogado do lobista da Coaf apresentou orientação do procurador-geral para que seu cliente não falasse.

“O pouco que o Marcel falou, talvez por dois minutos, conseguimos extrair dele coisas importantes. Primeiro, que os autores, os gênios do esquema eram o Jeter e o Merivaldo. Ele falou textualmente. E disse que o Jeter o ameaçava se ele não tivesse recebimento de propina, que o contrato com o Estado poderia ser prejudicado”, afirmou o deputado Alencar Braga.

Há nessa investigação um cipoal de contradições, o que sugere que sobram culpados, os quais tentam sonegar informações para poupar outros envolvidos. Diante da suspeita de participação, direta ou indireta dos assessores de Fernando Capez no escândalo de corrupção, o deputado tucano deveria licenciar-se do cargo para que a CPI pudesse investigar o caso sem qualquer tipo de pressão por parte da direção da Alesp.

Não se trata de admissibilidade de culpa, mas de preservar o próprio currículo no caso de eventual inocência. Esse tipo de grandeza não é para qualquer homem público, pois exige coragem e tranquilidade para que a própria vida seja vasculhada em busca de provas.


Considerando a possibilidade de Jeter Rodrigues e José Merivaldo dos Santos serem culpados, Capez deveria deixar o comando da Alesp, pois quem não sabe escolher assessores certamente é desprovido de condições para exercer cargo de tamanha importância.

Por outro lado, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) deveria sugerir a Capez o afastamento temporário do cargo até que o fim das investigações, como forma de evitar maiores danos ao governo paulista. Infelizmente, o que os tucanos defendiam em Brasília na época dos governos petistas não vale na terra dos bandeirantes.

Quando esteve na Presidência da República, o saudoso Itamar Franco não pensou duas vezes para pedir para que o então chefe da Casa Civil, Henrique Hargreaves, seu amigo de longa data, deixasse temporariamente o cargo até o fim das investigações sobre denúncias de corrupção.

Na ocasião, Itamar deu carta branca à Polícia Federal para investigar o caso e revirar a vida do ministro. Hargreaves prontamente atendeu ao pedido do amigo, retornando à Casa Civil a reboque da inocência comprovada e mais poderoso do que antes. Porém como mencionado acima, esse tipo de atitude exige grandeza.

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