Tão logo a prisão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi anunciada, na quarta-feira (19), sobraram em Brasília, mais especificamente no Congresso Nacional, desesperados e profetas do apocalipse. De um lado estavam os preocupados com a possibilidade de o ex-presidente da Câmara dos Deputados, de outro, os que viram na prisão uma revanche pela forma como o peemedebista se comportou no cenário parlamentar nos últimos anos. No PT a euforia foi grande, com direito a discursos absurdos, como se o novo capítulo da Operação Lava-Jato fosse uma espécie de vingança pelo impeachment de Dilma Rousseff, cujo pontapé inicial coube a Cunha.
Enquanto os petistas comemoram o calvário de Eduardo Cunha, o deputado cassado continua sendo visto como um explosivo arquivo ambulante. Ciente de que poderia ser preso a qualquer momento, ele passou a reunir nos últimos tempos provas que mandam pelos ares vários destacados integrantes do PT e do PMDB. Isso porque no Brasil não se faz política sem dinheiro, de preferência em grande quantidade e de origem criminosa.
O comportamento dos “companheiros” já está sendo comparado a show pirotécnico, com muito espetáculo e pouca duração. A questão é simples. Em Curitiba, na carceragem da Polícia Federal, estão dois políticos que, se soltarem a voz, provocarão estrago sem precedentes no cenário político nacional, começando por Lula, o dramaturgo do Petrolão.
Antonio Palocci Filho e Eduardo Cunha sabem muito mais acerca de esquemas de corrupção que os políticos gostariam que ambos soubessem. Ex-ministro da Fazenda e ex-chefe da Casa Civil, Palocci já avalia a possibilidade de acordo de colaboração premiada, mesmo que seus advogados neguem o fato. Confirmada essa intenção, a viriam à tona detalhes comprometedores da relação entre Lula e Marcelo Bahia Odebrecht, presidente afastado do grupo empresarial que leva o nome da família.
Como o ex-metalúrgico não tinha boa sintonia com Odebrecht, a tarefa de tratar com o grupo baiano foi delegada a Palocci. Uma eventual delação do ex-chefe da Casa Civil poderá ser reforçada pelos depoimentos do próprio Marcelo Odebrecht, que encontra-se preso em Curitiba, e de ex-executivos do grupo baiano, que há muito têm prestado informações à força-tarefa da Operação Lava-Jato.
Para quem acredita que tudo não passa de enredo policialesco, a relação entre Lula e Marcelo Odebrecht pode ser conferida a partir de fato específico. A maneira bisonha e canhestra como a Petroquímica Triunfo acabou no colo da Braskem, empresa do grupo Odebrecht que em termos práticos detém o controle do setor petroquímico no País.
Nesse cenário que lembra a um paiol de informações comprometedoras, o mais novo integrante, Eduardo Cunha, poderá produzir um estrago jamais visto na seara político. Metódico, frio, meticuloso e acostumado a guardar documentos e a gravar encontros. Cunha, como sempre afirmou o UCHO.INFO, não cairá sozinho. Levará ao olho do furacão pelo menos quarenta deputados, todos beneficiados financeiramente em suas respectivas campanhas eleitorais. Fora isso, o peemedebista tem um bom arsenal de provas contra próceres petistas.
Como se fosse pouco, Cunha, para o desespero dos alarifes com mandato, sabe quem é quem na roubalheira que corre solta nos subterrâneos do poder, em Brasília. Afinal, comandou a Câmara dos Deputados por longos e turbulentos meses. É esperar para ver, já que o ex-deputado sabe que em algum momento terá de contar o que sabe para proteger a mulher e a filha.