Lava-Jato: Cunha contrata advogado especialista em delação e Planalto entra em alerta máximo

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A prisão de Eduardo Cunha, na quarta-feira (19), causou um enorme alvoroço no universo político nacional, mas horas depois do feito alguns parlamentares surgiram em cena para afirmar que não havia razão para preocupações, mesmo que o ex-presidente da Câmara dos Deputados viesse a optar pela colaboração premiada.

Tão logo começou a tramitar o processo de cassação de Cunha, o UCHO.INFO afirmou que em eventual “queda” o peemedebista atiraria para todos os lados, mas muitos veículos de imprensa do País descartaram essa possibilidade, alegando que não passava de estratégia para evitar a perda de mandato. Este portal de notícias antevê a posição e não mudou de opinião, uma vez que o editor acompanha a trajetória do ex-deputado desde o final da década de 80.

Frio e calculista, além de meticuloso e obcecado por guardar provas e documentos, Eduardo Cunha só perde o eixo quando percebe que sua família corre algum tipo de risco. Considerando que sua mulher, a jornalista Claudia Cruz, e a filha, Danielle Ditz da Cunha, estão na mira da Operação Lava-Jato, um acordo de delação premiada não deve ser descartado. Agora, como o desdobramento dos fatos, a imprensa insiste em falar em acordo, como se antes tivesse negado isso.

Para quem acreditava que Cunha não faria acordo com os promotores da força-tarefa da Lava-Jato, o peemedebista contratou, horas após ser preso, o criminalista Marlus Arns, responsável pela defesa de Claudia Cruz e principalmente pelas delações de ex-executivos da empreiteira Camargo Corrêa.

Questionado, em Curitiba, sobre a possibilidade de seu novo cliente fazer acordo de delação premiada, Arns negou o fato, mas esse comportamento é típico de quem deseja avançar nas negociações sem que haja especulação por parte da imprensa. O mesmo ocorreu com o ex-senador Delcídio Amaral, que contratou um advogado especialista em colaboração premiada. A única diferença é que no caso de Cunha a decisão foi mais rápida.


Com esse novo cenário aumenta a tensão no meio político, pois Cunha certamente levará para o buraco pelo menos quarenta deputados federais, os quais receberam nas respectivas campanhas eleitorais dinheiro doado pelo peemedebista.

Um acordo de delação premiada não é algo tão simples e célere, além de depender da aceitação por parte dos promotores. Muitos jornalistas alegaram, horas depois da prisão, que Eduardo Cunha pouco tem a acrescentar em termos de novidade no âmbito da Lava-Jato, mas engana-se que aposta nesse quadro. Cunha era figura de destaque no PMDB, tendo liderado o partido na Câmara antes de chegar à presidência da Casa legislativa. Em outras palavras, sabe muito mais do que a maioria gostaria que ele soubesse.

Alguém há de dizer que outros líderes políticos flagrados no Petrolão foram presos e não falaram tanto quanto espera-se de Cunha, mas a situação é distinta. No caso de Pedro Corrêa, por exemplo, ex-líder do PP, a delação demorou e nem todos os correligionários foram denunciados aos procuradores. Corrêa resistiu às agruras do cárcere e abriu o arquivo até a gaveta número dois. Até porque, o ex-deputado federal pernambucano sabe como jogar em termos políticos.

Cunha, ao contrário, mesmo sendo um enxadrista político, tem temperamento diferente e sabe que sua família corre o risco de acabar atrás das grades. O primeiro alvo, como já noticiado aqui, será o ex-governador e ex-deputado federal Wellington Moreira Franco (PMDB-RJ), homem de confiança do presidente Michel Temer e secretário-executivo do programa de Parcerias Públicas e Investimentos (PPI).

A preocupação no Palácio do Planalto, diante da possibilidade de Cunha aderir à delação, é tão grande, que Temer determinou silêncio obsequioso em relação ao tema. Ninguém está autorizado a fazer qualquer comentário sobre a prisão de Cunha e eventual colaboração. Para se ter ideia da extensão do desespero, o governo acelera o passo para aprovar no Congresso as medidas econômicas antes de Cunha iniciar as negociações com a força-tarefa.

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