A política brasileira chegou a nível tão impressionante de degradação, que o governo do presidente Michel Temer já se colocou de joelho diante do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que em qualquer país minimamente sério já estaria atrás das grades.
A genuflexão dos inquilinos do Palácio do Planalto é fruto da Operação Métis, deflagrada na última sexta-feira (21) e que levou à prisão quatro integrantes da Polícia do Senado, que estavam atuando para atrapalhar as investigações da Operação Lava-Jato. Foi o bastante para irritar Renan Calheiros, que na segunda-feira (24) fez usou termos pesados para criticar o juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal do Distrito Federal, que autorizou a operação da PF, e o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes.
Em entrevista à imprensa – na verdade foi um monólogo –, Renan chamou Vallisney de “juizeco de primeira instância”, ao mesmo tempo em que afirmou ser o ministro da Justiça um “chefete de polícia”. A declaração do senador criou uma crise institucional entre os Poderes, que obrigou a ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), a rebater Renan de forma inominada e exigir “respeito” ao Judiciário.
A situação é tão grave, que o presidente da República não apenas chamou Renan Calheiros para uma conversa, no melhor estilo “cachimbo da paz”, como obrigou seus assessores a se pronunciarem a favor do peemedebista alagoano. Foi o que fez o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, que concordou com a tese de que a Operação Métis deveria ter sido autorizada pelo STF.
A questão que repousa sobre essa polêmica, que só cresce com o avanço das horas, é de interpretação. O juiz Vallisney de Souza Oliveira entendeu que os alvos da operação eram servidores do Senado, portanto não gozam do chamado foro privilegiado, por isso autorizou a ação policial.
Ator principal de uma dezena de inquéritos que tramitam no STF, Renan Calheiros sabe que a dependência do governo em relação ao parlamento lhe dá condições de fazer esse jogo imundo e rasteiro, que nem de longe atende aos interesses do País e da sociedade. O governo, por sua vez, necessitando aprovar as medidas que tirarão o Brasil do atoleiro da crise, se submete aos caprichos de um político acusado inúmeras vezes de corrupção e outros crimes.
Michel Temer tenta reunir a ministra Cármen Lúcia, o senador Renan Calheiros e o ministro Alexandre de Moraes para aparar as arestas e debelar a crise que pode levar o País a uma situação ainda pior. O Brasil não mais suporta esses solavancos decorrentes de um jeito bandoleiro de se fazer política.
Esse encontro servirá para nada, pois Renan e seus quejandos continuarão agindo nos bastidores com o objetivo de, mesmo de maneira disfarçada, atrapalhar o avanço da Operação Lava-Jato. Os brasileiros de bem, assim como fizeram em relação ao impeachment, devem sair às ruas e exigir o fim do foro especial por prerrogativa de função (foro privilegiado), uma vez que beira o inaceitável transformar uma casa legislativa em bunker de criminosos com mandato.