(*) Carlos Brickmann
Foi uma surra memorável. Não varreu o PT do mapa (se o Mensalão e o Petrolão não o fizeram, não será uma derrota eleitoral, mesmo essa tunda de criar bicho, que o fará), mas o deixou em décimo lugar, ele que era o maior dos partidos. Nas últimas eleições municipais, em 2012, as cidades governadas pelo PT tinham 38 milhões de habitantes. Agora, restaram-lhe seis milhões, ou pouco menos – uma queda de 85%. O PSDB cresceu 89% e deve governar, no total, 48,7 milhões de habitantes.
Nordeste, reduto do PT? Não é mais. ABCD paulista, berço do PT? Mudou de lado. Na São Bernardo de Lula e seu aliado inseparável, Luiz Marinho, o PT nem foi para o segundo turno (fazendo com que Lula deixasse de votar – ou escolhia um petista ou não votava em ninguém). O PT perdeu mesmo quando era representado por outra legenda: o PSOL do Rio, com maciço apoio de artistas, intelectuais e imprensa, entregou ao senador Marcelo Crivella, do PRB, sua primeira vitória em cinco eleições majoritárias. O governador petista mineiro Fernando Pimentel teve o prazer de assistir à derrota do PSDB e de Aécio Neves em Belo Horizonte – mas não para o PT, e sim para o PHS de Alexandre Kalil, ex-dirigente do Clube Atlético Mineiro que diz não ser aliado de nenhum grande partido: “acabou coxinha, acabou mortadela, o papo agora é quibe”. Aliás, o PT de Belo Horizonte não chegou nem a 8% dos votos e ficou fora do segundo turno.
A próxima…
Mas não se deve imaginar que a derrota, por pesada que seja, vai acabar com o PT ou com o futuro político de Lula. Política é como nuvem, ensinava o sábio governador mineiro Magalhães Pinto: a gente olha está de um jeito, olha de novo está de outro. O PT não vai acabar porque há muita gente que acredita em suas ideias, muita gente que encara o petismo como religião. O partido pode até mudar de nome, mas continua existindo. E Lula pode aparecer como candidato forte em 2018. Lembremos Richard Nixon: perdeu a presidência para Kennedy, perdeu o Governo da Califórnia para Pat Brown, ficou com fama de perdedor. Em 1968 chegou à Presidência, batendo Hubert Humphrey.
James Reston, lendário jornalista do New York Times, comentou: “Foi a maior ressurreição desde Lázaro”.
…eleição…
Frase de Nixon sobre sua passagem de perdedor a vencedor: “Um homem não está acabado quando perde. Ele está acabado quando desiste.”
Alguém acredita que Lula vai desistir?
…é a próxima
Há um único Poder capaz de evitar que Lula, carismático, hábil, bom político, volte à campanha, com a possibilidade de fascinar multidões: o Poder Judiciário. Lula só estará fora se for julgado e condenado, impedido legalmente de concorrer. Se for absolvido, volta por cima. Aí é Lula 2018.
La garantía del futuro
Enquanto se discute o Brasil depois da eleição municipal, o cerco a Lula continua firme. De acordo com a revista IstoÉ, a Operação Lava Jato investiga desde agosto se uma bela casa muito bem localizada em Punta Del Este, balneário mais luxuoso e caro do Uruguai, é um daqueles imóveis que não são de Lula, mas nos quais, como os donos são seus amigos e o autorizaram a fazer o que quiser, ele faz o que quiser. No caso uruguaio, a mansão seria de uma empresa off-shore que seria controlada pelo empresário Alexandre Grendene, sócio do grande grupo calçadista Grendene e dono de vários imóveis no pais.
Com tantos condicionais, verdade ou mentira? Depende: que a Operação Lava Jato investiga o caso, deve ser verdade, já que o repórter Germano Oliveira é sério e competente. Que a casa é de Lula, só haverá resposta precisa no final das investigações.
A segurança
De qualquer forma, o Uruguai é um excelente lugar pra investir, com boa segurança jurídica e tratamento fiscal favorável. Para Lula, caso prefira afastar-se dos aborrecimentos dos interrogatórios do juiz Sérgio Moro de uma eventual prisão, o Uruguai é ideal: um país agradável, perto do Brasil, e cujo presidente, Tabaré Vasquez, é seu amigo e compartilha suas ideias. Nada de aborrecimentos com a Interpol; a garantia total de que não será extraditado; e, ao contrário de outros países onde seria recebido como herói, como Venezuela e Cuba, a vida uruguaia corre mansa, sem desabastecimentos nem a necessidade de ouvir discursos quilométricos.
Caso queira aposentar-se ou descansar algum tempo, o lugar é perfeito.
Questão religiosa
Boa parte das críticas ao prefeito eleito do Rio, Marcelo Crivella, é causada por sua religião (evangélico, membro da Igreja Universal e sobrinho do bispo Edir Macedo).
No Brasil, questiona-se a religião do candidato? Tivemos presidentes católicos, um ateu, um protestante. E daí?
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.