Fosse corajoso, Temer já teria demitido Geddel Vieira Lima, que pressionou o ex-ministro da Cultura

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Quando montou sua equipe de governo, com base na teoria do loteamento da Esplanada dos Ministérios, o presidente Michel Temer não apenas sabia o que estava a fazer, mas tinha conhecimento do risco que correria no vácuo de determinadas nomeações. Isso porque se por um lado a política brasileira é movida a interesses paroquiais, por outro muitos integrantes do PMDB, partido de Temer, são conhecidos por polemicas e escândalos. Quem acompanha de perto a política nacional sabe que tal cenário é verdadeiro e tende a piorar com o avanço do tempo.

Com metade do tempo de um mandato normal e com elevados índices de rejeição, Michel Temer deveria zelar melhor por seu governo e não pensar duas vezes antes de demitir algum colaborador. O que de certa forma passaria a opinião pública a sensação de que é possível ter esperança.

A demissão de Marcelo Calero, então ministro da Cultura, provocou mais um momento de instabilidade no governo. Calero não foi protagonista de algum escândalo novo, mas acabou como vítima de uma ingerência descabida e reprovável por parte de Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), ministro da Secretaria de Governo. Ao fincar Geddel no cargo, o presidente, político experiente que é, sabia que e algum momento um entrevero haveria de surgir em cena.

Geddel Vieira Lima é daqueles políticos que creem que o poder permite tudo e mais um pouco. E foi no rastro dessa teoria esdrúxula, típica de coronéis nordestinos, é que Geddel pressionou Marcelo Calero para que um parecer do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) fosse modificado para beneficiar um empreendimento imobiliário em Salvador.


Incomodado com a ingerência do ministro Geddel, o ex-titular da Cultura não precisou de muito tempo para deixar o cargo, mas o fez com a metralhadora giratória em ação. Esse tipo de comportamento não é novidade no governo de Michel Temer. Outrora advogado-geral da União, Fábio Medina Osório foi apeado do cargo depois que solicitou informações sobre a Operação Lava-Jato para, em futuro próximo, cobrar dos políticos envolvidos no esquema de corrupção a devolução aos cofres públicos do dinheiro desviado.

Foi o bastante para que o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) entrasse em rota de colisão com Osório, forçando a sua demissão. Afinal, o PMDB é um dos partidos com o maior número de envolvidos no esquema criminoso conhecido como Petrolão.

Fosse o governo minimamente bem intencionado, o presidente da República, que aceitou de pronto a demissão de Calero, teria demitido na sequencia o ainda ministro Geddel Vieira Lima, que nesta segunda-feira (21) terá o seu futuro decidido pela Comissão de Ética Pública da Presidência. O colegiado analisará a denúncia feita por Marcelo Calero e, dependendo da decisão, abrirá processo para investigar Geddel.

Para quem prometeu, ainda na interinidade, formar uma equipe de governo apenas com notáveis, Michel Temer deixa a desejar ao adotar silêncio quase obsequioso em relação ao escândalo envolvendo o ministro da Secretaria de Governo. Não se trata de fazer juízo antecipado, mas de não deixar na berlinda um governo que ainda não mostrou a que veio.

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