Depoimento de Calero complica Temer e Geddel e mostra o nível do governo que promete salvar o País

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A situação do governo de Michel Temer piora com o passar das horas, no rastro da permanência de Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) à frente da Secretaria de Governo da Presidência. A demissão de Geddel daria ao governo doses de credibilidade, mas o presidente da República prefere deixar o País sangrando à sombra de mais um escândalo envolvendo um ministro de Estado.

Como se nada representasse a pressão exercida por Geddel sobre o então ministro da Cultura, com o objetivo de modificar decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em relação a empreendimento imobiliário na capital baiana, Temer teve o nome mencionado de maneira incisiva em depoimento prestado por Marcelo Calero à Polícia Federal, nesta quinta-feira (24).

À autoridade policial, Calero afirmou que o presidente da República “enquadrou-o” para que encontrasse uma “saída” para a obra do interesse de Geddel Vieira Lima. O depoimento é grave e compromete o governo como um todo, pois o que se oferece ao País é o mesmo modelo de administração adotado pelo PT, em que as questões provadas estavam muito acima dos interesses públicos.

A letargia de Michel Temer é preocupante, já que o Brasil precisa recuperar a credibilidade no mercado de investimento, algo que não acontecerá tão cedo por conta dessas bizarrices típicas de repúblicas bananeiras. Ao manter-se em silêncio e se tomar uma atitude, o presidente deixa claro que tornou-se refém de um grupo de políticos fisiologistas que cultuam diuturnamente o “vale tudo”, como se no País inexistissem leis.


“Que na quinta, 17, o depoente foi convocado pelo presidente Michel Temer a comparecer no Palácio do Planalto; que nesta reunião o presidente disse ao depoente que a decisão do Iphan havia criado ‘dificuldades operacionais’ em seu gabinete, posto que o ministro Geddel encontrava-se bastante irritado; que então o presidente disse ao depoente para que construísse uma saída para que o processo fosse encaminhado à AGU [Advocacia-Geral da União], porque a ministra Grace Mendonça teria uma solução”, destaca um trecho do depoimento de Calero, devidamente enviado ao Supremo Tribunal Federal e à Procuradoria-Geral da República.

Na sequência, o ex-ministro da Cultura afirmou que Michel Temer tratava via com impressionante tranquilidade a pressão exercida por Geddel, responsável pela articulação política de um governo que ainda não mostrou ao que veio.

A frouxidão de Temer como presidente, algo inúmeras vezes destacado pelo UCHO.INFO, ficou evidente em outro trecho do depoimento de Marcelo Calero: “Que, no final da conversa, o presidente disse ao depoente ‘que a política tinha dessas coisas, esse tipo de pressão’”.

Sobre a decisão de deixar o Ministério da Cultura, Calero disse que sentiu-se “decepcionado” pelo fato de o próprio presidente da República tê-lo “enquadrado”. “Que então sua única saída foi apresentar seu pedido de demissão”, destaca trecho transcrito do depoimento do ex-ministro.

Por questões óbvias não há como patrocinar uma acareação entre Temer, Geddel e Calero, mas se isso fosse possível os dois primeiros deveriam considerar de serem desmascarados. Constrangedor, o imbróglio poderia ter sido solucionado com a demissão de Geddel, que com o desenrolar dos fatos pode não durar muito tempo no cargo. Até porque, um governo “meia bomba” não pode tratar escândalos com malabarismo oficial.

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