Após escândalo envolvendo edifício em Salvador, Geddel não resiste à fritura política e pede demissão

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Michel Temer, o presidente da República, é o tipo de governante que não demite assessores. Ou pede que alguém faça em seu lugar, ou deixa que a vítima caia no melhor estilo “insustentável leveza do ser”. Enquanto a situação não é definida, o Brasil continua sangrando no vácuo de uma crise política que parece não ter fim e produz consequências desastrosas.

Foi o caso de Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), amigo de longa data de Temer e agora ex-ministro da Secretaria de Governo da Presidência. Pivô do escândalo envolvendo um empreendimento imobiliário em Salvador, Geddel pressionou o então ministro da Cultura, Marcelo Calero, para que fosse alterada uma decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) sobre o projeto que previa inicialmente a construção de um edifício de 31 andares, na Barra.

Diante da pressão, Calero pediu demissão do cargo e saiu atirando, sem que Michel Temer tivesse avaliado o tamanho do estrago que viria pela frente. Como sempre acontece no governo atual, quem sai da equipe ministerial não demora a ser desconstruído. Isso porque o governo ainda não mostrou a que veio e tem apenas dois anos para fazer o que exigiria pelo menos duas décadas.

Enquanto o Palácio do Planalto negava a alegada pressão exercida sobre o então ministro da Cultura, Geddel se acomodava na “frigideira política” que leva à fritura quem ousa desafiar o óbvio. Em outro vértice da confusão estava o próprio Calero, que em depoimento à Polícia Federal disse que não apenas sofreu pressão por parte do colega de ministério, mas foi “enquadrado” pelo presidente da República.

Mais uma vez os palacianos negaram as acusações, desqualificando o denunciante, mas não contavam com a possibilidade de Calero ter gravado a conversa que teve com Temer, Geddel e Eliseu Padilha (ministro da Casa Civil), em que fica evidente a ordem para que encontrasse uma solução para o caso do empreendimento imobiliário na capital baiana.


A situação piorou muito nas últimas horas, especialmente depois que veio à tona a questão da gravação da conversa entre os quatro. A demissão de Geddel Vieira Lima tira momentaneamente o governo da ebulição política, mas deixa o presidente da República em cenário preocupante, pois há de se tornar ainda mais refém dos aliados.

A grande questão é saber como se comportará, de agora em diante, a chamada base aliada, que no primeiro momento declarou apoio explícito a Geddel, começando pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que rasgou discurso recente e agora está em franca campanha pela reeleição. E para tanto contava com a ajuda de Geddel.

A crise que ainda não chegou ao capítulo final poderia ter sido evitada, caso Michel Temer fosse um governante de pulso. Para um governo tampão, cujo principal partido está mergulhado no maior escândalo de corrupção de todos os tempos (Petrolão), não há outra saída que não a adoção do pragmatismo.

Temer, antes de assumir, ainda como interino, falou em “ponte para o futuro”, mas, na condição de mais do mesmo, não saiu do lugar e continuará onde está. Para o desespero dos brasileiros de bem, que pagam uma conta excessivamente cara, na esteira do banditismo político.

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