A decisão da Câmara dos Deputados de aprovar emenda que ameaça a Operação Lava-Jato e pune juízes e promotores que cometerem o crime de abuso de autoridade não causou surpresa aos que frequentam a capital dos brasileiros.
Quem conhece com doses de intimidade os bastidores da política em Brasília, em especial o Congresso Nacional, sabe que o Parlamento está longe de ser endereço dos mais animadores. Na verdade, a energia negativa que brota do Congresso alcança níveis impressionantes, a ponto de obrigar alguns profissionais a deixarem o local de trabalho por alguns instantes ao longo do dia. Isso porque a postura deliberadamente criminosa de alguns parlamentares deixaria corado de vergonha os mais experientes mafiosos.
Boa parte dos parlamentares que por lá circulam sabe exatamente o que fazer quando o assunto é banditismo político, enquanto outros – uma ínfima minoria – sequer descobriram por qual razão lá estão. Nos plenários e nas comissões permanentes – nas temporárias também – contemplam com olhos esbugalhados a destreza de políticos profissionais que legislam em causa própria, muitas vezes transgredindo todos os limites da lei.
Deputados e senadores sobem às tribunas para, com voz grossa e potente, às vezes aos berros, tentar transformar em verdade suprema uma mentira que muitos sabem ser deslavada, quase um truque desmedido. Agem assim porque sabem que a opinião pública tem memória curta em um país transformado nas últimas décadas em catapulta de escândalos.
A explicação para essa postura criminosa está na aritmética, mais precisamente na contabilidade das campanhas. Até 2014, eleger-se deputado federal por um partido considerado médio, em um estado do Nordeste, por exemplo, custava no mínimo R$ 50 por voto. Isso significa que um deputado eleito com 150 mil votos desembolsou R$ 7,5 milhões para chegar à Câmara, onde, ao longo de quatro anos de mandato, receberá oficialmente pouco mais de R$ 1,5 milhão em salários (valor bruto). E a diferença entre o custo da campanha e o salário de parlamentar precisa ser paga por alguém. Sem considerar o lucro da empreitada, pois ninguém é de ferro nesse faroeste caboclo.
O Parlamento federal é, há muito tempo, um aviltante clube privado de negócios, cujas mesas de negociações são manchadas pela lama da corrupção. Mas aqueles que aos tabuleiros da patifaria sentam-se não demonstram constrangimento enquanto estão entre iguais. A situação só muda quando a imprensa aproxima-se de forma perigosa de algum imbróglio. Mesmo assim, se o profissional de imprensa for ligado a algum veículo de comunicação de médio ou grande porte, o cenário muda com celeridade. Isso porque esses órgãos midiáticos precisam manter a geração de notícias, negócio que depende das informações privilegiadas de políticos, sejam criminosos ou não.
Para que o leitor tenha ideia, em muitos casos a eleição de um líder partidário não custa menos de R$ 5 milhões. Pode parecer absurdo, mas o parlamentar que almeja liderar uma legenda precisa desembolsar esse valor ou, então, deve assumir o compromisso de pagar mais adiante. Esse escambo só é possível porque a liderança partidária facilita a relação com o Palácio do Planalto, que por sua vez recompensa de maneira ilegal o apoio no Congresso. Muitas vezes isso ocorre por meio de distribuição de cargos, com direito à roubalheira institucionalizada. É dessa fonte que sai o dinheiro para bancar a eleição do líder.
Nas comissões temáticas permanentes a situação não é diferente. Os principais colegiados também funcionam como palco para interesses escusos. A simples convocação de representantes de determinado setor da economia é motivo suficiente para a distribuição de dinheiro imundo. A mera apresentação de um requerimento de convocação pode render, de chofre, R$ 1 milhão. Valor normalmente cobrado para retirar-se um requerimento de convocação. Se o documento estiver a poucos passos de ser votado na comissão, o preço sobe muito. O que explica a meteórica evolução patrimonial de alguns políticos, que chegam ao Congresso com uma mão na frente e outra atrás, mas em questão de meses passam a viver como verdadeiros nababos.
Mas o escândalo não para por aí. Deputados avançam criminosamente sobre a chamada verba indenizatória, enxertando na contabilidade da Câmara e do Senado recibos e notas fiscais que nem de longe retratam a verdade. Combinam com o emitente do documento (nota fiscal ou recibo) a divisão do valor do serviço não prestado, engordando assim a remuneração mensal. Alguns promovem orgias e motéis e hotéis, mas são reembolsados pelo feito com a apresentação de nota fiscal de hospedagem.
Há também o chamado “chumbo trocado” na nomeação de parentes em gabinetes. Um deputado nomeia o parente de outro parlamentar, que por sua vez retribui e gentileza da mesma forma. E parte do salário do nomeado é divido com aquele que fez a indicação. Fora isso, gabinetes servem para abrigar funcionários quase fantasmas, que comparecem ao Congresso apenas para registrar o ponto. No restante do dia têm outras atividades, muitas vezes de lazer. Nesse escopo deve-se incluir as chamadas indicações horizontais, negociadas na cama e à base de sexo, no melhor estilo “michê de longo prazo” e pago com o dinheiro do contribuinte.
Diante desse quadro de podridão explícita que domina as entranhas do Parlamento, era impossível esperar atitude diferente dos deputados, que não a de aprovar emenda que é verdadeiro atentado à democracia e à vontade popular. Muitos políticos hão de se rebelar contra esta matéria, mas o UCHO.INFO não teme qualquer retaliação. Que ouse levantar a voz aquele político que desconhece o nosso cipoal de informações e provas.