Até o impeachment de Dilma Rousseff, o PSDB era um poço de mágoas com o Partido dos Trabalhadores, companheiros de priscas eras. Os tucanos não economizavam adjetivos pejorativos para criticar o partido adversário, que chegou a ser comparado acertadamente, com uma organização criminosa. Porém, o tucanato, que deve sofrer de amnésia em estado avançado, já não se recorda que o governo atual – do PMDB de Michel Temer e outros aduladores – foi, até recentemente, parceiro de Dilma em desmandos vários.
Muito estranhamente, o presidente Michel Temer decidiu, nesta quinta-feira (8), testar a aceitação do nome do deputado federal Antonio Imbassahy (PSDB-BA) para ocupar a Secretaria de Governo da Presidência, antes ocupado pelo também baiano Geddel Vieira Lima (PMDB). Como se a mencionada pasta fosse um puxadinho da Bahia de Todos os Santos, Temer deu mostras de que não é especialista em articulação política.
A simples menção ao nome de Imbassahy foi suficiente para que as bancadas do PMDB na Câmara e no Senado se rebelassem. Fosse pouco, o chamado “centrão”, bloco de partidos da Câmara que apoiam Michel Temer, ameaçou com uma rebelião caso o nome do tucano baiano for confirmado como ministro da Secretaria de Governo.
A estratégia do Palácio do Planalto, embalada pela utopia e pela ilegalidade, é fazer de Antonio Imbassahy ministro, deixando o caminho para o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), possa disputar a reeleição. É preciso ressaltar que a reeleição de Rodrigo Maia é ilegal, pois fere o que determina a Constituição Federal e o próprio Regimento Interno da Câmara. Porém, como no Brasil as leis servem para nada, Maia deve insistir no tema.
Não se pode esquecer que, por ocasião de sua eleição, Rodrigo Maia, que substituiu Eduardo Cunha no cargo, garantiu que não concorreria à reeleição, mesmo sabendo que o mandato era “tampão”. O presidente Michel Temer precisa de Maia no comando da Câmara para garantir a aprovação de matérias importantes para o governo. Além disso, o presidente da Câmara é genro do peemedebista Wellington Moreira Franco, ex-governador do Rio de Janeiro e integrante do núcleo duro do governo Temer.
Voltando ao tema de abertura da matéria… Para quem até recentemente não aceitava a bandalheira que descia a rampa do Palácio do Planalto, o PSDB anda com excesso de apetite político quando enxerga o governo peemedebista de Michel Temer. Os tucanos já ocupam três postos no primeiro escalão do governo – José Serra (Relações Exteriores), Bruno Araújo (Cidades) e Alexandre de Moraes (Justiça) –, mas ao que parece sonham com mais espaço. De quebra, o líder do governo no Senado é o tucano paulista Aloysio Nunes Ferreira Filho.
Caso o nome de Antonio Imbassahy seja confirmado para a Secretaria de Governo, o PSDB passará a ocupar quatro pastas importantes na administração federal. Sem contar que a cúpula do tucanato trabalhou nos bastidores para tentar deflagrar o processo de “fritura” de Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, sonhando em ver Armínio Fraga no cargo. Por enquanto a estratégia fracassou, pois Temer tem afirmado que Meirelles está mais firme como ministro do que nunca. Na política, quando isso acontece, é sinal de que a demissão está a caminho.
O presidente da República, com essa possível nomeação, mostra que articulação política não é o seu forte. Afinal, é no mínimo temerário escolher um representante de um partido que já trabalha de olho na eleição presidencial de 2018, mas que precisa do atual governo para mostrar serviço. Considerando que o PMDB também sonha em continuar no principal gabinete do Palácio do Planalto, em termos de negociação política a estratégia é suicida.
Para finalizar, o PSDB, não faz muito tempo, mais precisamente em agosto passado, ameaçou desembarcar do governo de Michel Temer. Com essa sanha por cargos, os tucanos adotam um plano perigoso, pois se o governo Temer der errado – e tem ingredientes de sobra para isso – o PSDB irá de roldão.