Um dia alguém disse “O Brasil não é um país sério”. Muitos creditaram essa frase ao general francês Charles de Gaulle, mas não há registro de que seja ele o autor dessa profecia que cai como luva na realidade verde-loura.
Parafraseando o alarife Lula, o dramaturgo do Petrolão, “nunca antes na história deste país” o descrédito das instituições foi tão grande. Uma sequência de escândalos e desmandos faz com que o brasileiro desconfie das autoridades em todos os níveis, sendo que a solução para essa tragédia está a anos-luz de distância.
O que se viu nos últimos dias foi um espetáculo tão vergonhoso, que por vez causa vergonha ser brasileiro. O Brasil transformou-se no paraíso do “faz de conta”, onde os poderosos agem como bem entendem, sempre apostando na impunidade.
Quando uma decisão judicial é desrespeitada de maneira acintosa, com direito a explicações estapafúrdias, por certo escorreu pelo ralo a nesga de possibilidade de o Brasil se transformar em um país minimamente sério. Renan Calheiros, que continua presidente do Senado, tratou com bazófia a decisão judicial, em caráter liminar, que determinou seu afastamento do cargo, fazendo prevalecer a sua vontade. Para tanto, em mais um ato que ultrapassou as raias do absurdo, o peemedebista contou com o apoio da Mesa Diretora da Casa.
O Supremo Tribunal Federal (STF), que em nenhuma hipótese poderia desrespeitar o que determina a Constituição, de forma genuflexa atendeu aos anseios de Renan, referendando a permanência de um velhaco da política no comando de um dos Poderes constituídos.
Vencida a etapa que transformou o STF em uma casa de tolerância, Renan Calheiros cai em contradição ao externar o seu pensamento. Ele só cumpre determinação judicial que o favoreça. Do contrário, agarra-se ao chamado “jus sperniandi” e coloca a nação de joelhos, como se o senhor das “vacas sagradas” fosse a derradeira divindade.
Em qualquer país responsável, Renan Calheiros já estaria preso, pois seu currículo não deixa dúvidas a respeito dessa necessidade de suprimir a liberdade de um político que comanda uma Casa legislativa com técnicas típicas de organizações mafiosas.
O que para muitos pode ser exagero deste noticioso, na verdade é a tradução da realidade. Nesta quinta-feira (8), Renan comemorou a bizarra decisão do STF que o manteve à frente do Senado, mas fora da linha de substituição da Presidência da República. Em nota, o peemedebista afirmou: “Ultrapassamos, todos nós, Legislativo, Executivo e Judiciário, outra etapa da democracia com equilíbrio, responsabilidade e determinação para conquista de melhores dias para sociedade brasileira”.
A afirmação de Renan é uma ode ao deboche, um afronta à democracia, pois a decisão do Supremo, negociada nos subterrâneos do poder sob a égide da desculpa da governabilidade, foi, sim, um ato de desequilíbrio e irresponsabilidade.
Alegar que a decisão da Corte permitirá a conquista de “melhores dias para a sociedade brasileira” é motivo mais que suficiente para que a população paralise o País, que há algumas horas deixou de ser um Estado Democrático de Direito.
Esse novo status da nação é evidente, já que Renan Calheiros concordou com a violação da Carta Magna e, ao contrário do que fizera horas antes, aceitou cumprir com obediência a decisão judicial que o manteve na presidência do Senado.