Morreu, no final da manhã desta quarta-feira (14), o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, Arcebispo Emérito da Arquidiocese de São Paulo. Arns estava internado no Hospital Santa Catarina, região central da capital paulista, em decorrência de uma broncopneumonia. De acordo com o boletim médico, houve piora na função renal tendo necessidade de mantê-lo na UTI. Ele foi internado no dia 28 de novembro. O religioso estava com 95 anos.
Quinto de treze filhos de imigrantes alemães, Dom Paulo Evaristo Arns nasceu em 1921 em Forquilhinha, Santa Catarina. Ingressou na Ordem Franciscana em 1939, iniciando seus trabalhos como líder religioso em Petrópolis, no Rio de Janeiro.
O Arcebispo formou-se em teologia e filosofia em universidades brasileiras. Ordenado sacerdote em 1945, ele foi estudar na Sorbonne, em Paris, onde cursou letras, pedagogia e também defendeu seu doutorado.
Foi bispo e arcebispo de São Paulo entre os anos 60 e 70. Teve atuação marcante na Zona Norte da cidade, região em que desenvolveu inúmeros projetos voltados à população de baixa renda. Em julho de 2016, foi celebrado os 50 anos de sua ordenação episcopal.
Ao longo de sua trajetória, trabalhou como jornalista, professor e escritor, tendo publicado 57 livros. Durante a ditadura militar, destacou-se por sua luta política, em defesa dos direitos humanos, contra as torturas e a favor do voto nas Diretas Já.
Teve projeção na militância em janeiro de 1971, logo após tornar-se arcebispo de São Paulo, e denunciar a prisão e tortura de dois agentes de pastoral, o padre Giulio Vicini e a assistente social Yara Spadini. No mesmo ano, apoiou Dom Hélder Câmara e Dom Waldyr Calheiros que estavam sendo pressionados pelo regime militar.
Em 1972, criou a Comissão Justiça e Paz de São Paulo e, como presidente regional da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), liderou a publicação do “Testemunho de paz”, documento com fortes críticas ao regime militar que ganhou ampla repercussão à época.
Presidiu celebrações históricas na Catedral da Sé, no Centro de São Paulo, em memória de vítimas da Ditadura Militar. Dentre eles, do estudante universitário Alexandre Vannucchi Leme, assassinado em 1973, e o ato ecumênico em honra do jornalista Vladimir Herzog, assassinado no DOI-CODI, em São Paulo, em 75.
Atuou contra a invasão da PUC em 1977, em São Paulo, comandada pelo coronel Erasmo Dias, à época secretário de Segurança, e a operação para entregar ao presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, uma lista com os nomes de desaparecidos políticos.
Também teve papel importante em favor das vítimas da ditadura na Argentina, em 1976. O ativista de direitos humanos argentino Adolfo Perez Esquivel, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1980, disse que foi “salvo duas vezes” por dom Paulo Evaristo Arns durante a ditadura no Brasil.
Em 1980, acompanhou a primeira visita do papa João Paulo II ao Brasil, em 1980. Em São Paulo, João Paulo II falou no estádio do Morumbi para 200 mil operários. Em 1985, criou a Pastoral da Infância, com o apoio de sua irmã, Zilda Arns, que morreu no terremoto de 2010 no Haiti, onde realizava trabalhos humanitários.
Em 28 anos de arcebispado, criou 43 paróquias, construiu 1200 centros comunitários, incentivou e apoiou o surgimento de mais de 2000 comunidades eclesiais de base (CEBs) na capital paulista.
Por seus feitos, recebeu inúmeros prêmios e homenagens no Brasil e no exterior. Dentre eles, o Prêmio Nansen do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), o Prêmio Niwano da Paz (Japão), e o Prêmio Internacional Letelier-Moffitt de Direitos Humanos (EUA), além de 38 títulos de cidadania.