Imprensa destaca fortuna paga pela Odebrecht em propinas, mas não questiona paradeiro da dinheirama

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Nada pode ser pior do que a mediocridade que impera na imprensa, que cada vez mais insiste em informar de forma rasa e sensacionalista, como se uma notícia não pudesse ser mais elaborada e elucidativa. Logo após a prisão de Sérgio Cabral Filho, ex-governador do Rio de Janeiro, e de sua esposa, a advogada Adriana Ancelmo, no rastro da Operação Calicute, alguns profissionais da imprensa passaram a destacar as muitas joias caras compradas pelo casal e as despesas da ex-primeira-dama fluminense em hotéis de luxo da Europa. Como se isso desvendasse o paradeiro de R$ 224 milhões, valor referente à propina recebida por Cabral.

Esse comportamento estranho dos profissionais de comunicação repete-se no Petrolão, como um todo, pois o noticiário vem se dedicando a anunciar pontualmente os valores da roubalheira, mas em nenhum momento cobra, por exemplo, explicações sobre como muitos dos envolvidos no esquema de corrupção, alguns deles presos, conseguem custear os honorários milionários de criminalistas conhecidos e renomados. Considerando que uma defesa no âmbito do Petrolão pode chegar facilmente à casa dos R$ 5 milhões, é impossível que um corrupto preso consiga fazer frente a essa despesa sem utilizar o produto do crime.

Na quarta-feira (21), a notícia que disputou as manchetes com o atentado terrorista em Berlim foi a propina paga pelo grupo Odebrecht em pelo menos doze países, atuação criminosa que culminou com acordo de leniência com os governos brasileiro, norte-americano e suíço, além do pagamento de multa no valor de US$ 3,5 bilhões.

Somente no Brasil, a Odebrecht e seu braço petroquímico, a Braskem, pagaram R$ 1,1 bilhão em propina ao longo de mais de uma década, o que mostra a saída mensal de pouco mais de R$ 8 milhões da tesouraria do grupo empresarial. Ora, se a propina foi paga, como atestaram as autoridades, alguém por certo recebeu. Por mais que os corruptos passivos sejam identificados, como já devem ter sido, alguém precisa esclarecer o paradeiro dessa fortuna, pois é impossível que tanto dinheiro esteja escondido debaixo do colchão.


Em muitos casos, como relatado nos depoimentos de delação premiada no escopo da Operação Lava-Jato, as propinas foram pagas em espécie aos corruptos supostamente mais cautelosos. Isso significa que o dinheiro da propina foi sacado de alguma instituição financeira, que por dever de ofício teria de informar ao Coaf qualquer movimentação acima de R$ 10 mil. Pelo menos é o que manda a legislação vigente.

Um reles brasileiro que tentar sacar, em dinheiro, valor superior a R$ 10 mil terá de dar explicações não apenas à gerência da instituição bancária, mas também ao Fisco, que por sua vez poderá verificar a origem do recurso. Ou seja, a Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso XXXVI, estabelece que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”, mas no Brasil alguns poucos são mais iguais que a extensa maioria.

Deixado de lado a ausência de isonomia que impera na Botocúndia, a Odebrecht limitou-se a divulgar uma nota pífia, em que pede desculpas e diz-se arrependida de ter adotado práticas que feriram a ética e os bons costumes. Pois bem, o grupo baiano faturou verdadeiras fortunas com o esquema criminoso, mas limita-se a pedir desculpas.

O UCHO.INFO, sabem os leitores, defende o acordo de leniência, até porque essa medida garante a manutenção de milhares de empregos e não compromete a realização de obras de infraestrutura, das quais o Brasil é carente, mas é preciso que os atores da bandalheira sejam afastados por pelo menos duas décadas da gestão dessas companhias, o que não significa que deixarão de ser proprietários das mesmas. Afinal, o Brasil é o paraíso do “faz de conta” e o brasileiro tem memória curta. E não demorará muito para que em breve a famosa criatividade tupiniquim surja em cena como novo modelo de corrupção.

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