O ano novo começou com a imprensa nacional exibindo seus “especialistas” em sistema penitenciário

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É no mínimo oportunista e bizarro o comportamento da imprensa nacional diante dos recentes massacres ocorridos em presídios de Manaus (AM) e Boa Vista (RR), que deixaram 94 mortos e vários feridos, sem contar os detentos que continuam foragidos.

O papel da imprensa, não é de hoje, vai além do dever de informar com responsabilidade, isenção e coerência. Tem, sim, a obrigação inequívoca de alertar a população e o Estado, como um todo, sobre as mazelas que marcam um país de dimensões continentais e vítima de governos corruptos e populistas. Contudo, os veículos de comunicação preferem apostar no “denuncismo” continuado, como se tal prática ajudasse a mudar o presente e a melhorar o futuro.

Desde 2002 o UCHO.INFO vem alertando para o perigo do avanço do crime organizado, com especial atenção para a atuação das facções criminosas no sistema prisional brasileiro. Há mais de uma década o Brasil passou a conviver passivamente com um Estado paralelo, o qual surgiu à sombra das falhas do Poder oficial e cresceu de forma assustadora sob a batuta de criminosos, principalmente de traficantes de drogas e de armas.

Sabem os leitores deste portal de notícias que há muito insistimos para que o governo federal tome uma providência em relação às fronteiras, combatendo, por meio de patrulhamento ostensivo, o tráfico de drogas e o contrabando de armas. Sem esse tipo de ação, qualquer medida adotada pelo governo será inócua, pois os criminosos continuarão devastando a nação em todos os setores, começando pelos jovens, vítimas fáceis dos traficantes.

O que os brasileiros viram nos últimos dias é reflexo de políticas governamentais equivocadas, que priorizaram a fanfarrice oficial, deixando de lado as necessidades de uma sociedade cada vez mais abandonada e marginalizada. Em suma, o que se vive atualmente no País é fruto da falta de investimentos em educação, saúde, segurança e geração de empregos.

As medidas urgentes anunciadas pelo governo do presidente Michel Temer são não apenas acanhadas, mas mais do mesmo. Além disso, entre o anúncio e a prática propriamente dita há um hiato de tempo considerável, o qual será terreno fértil para que as facções criminosas que dominam os presídios mostrem o seu poder de fogo. Que, é bom lembrar, não é pequeno.


A grande questão, ignorada durante anos, é que o crime organizado conseguiu infiltrar-se sorrateiramente na estrutura do Estado, patrocinando campanhas eleitorais em todo o território nacional, além de cooptar integrantes de todos os Poderes, principalmente do Legislativo e do Judiciário.

É preciso que o governo deixe de lado o proselitismo barato e reconheça que a situação é caótica no sistema prisional brasileiro, não sem antes admitir que novos massacres poderão ocorrer a qualquer instante, como se fosse um efeito cascata. Por trás desses enfrentamentos sanguinários está a disputa pelo controle do tráfico de drogas no País, algo que deveria ser encarado com mais seriedade por parte das autoridades, que insistem no enfadonho “faz de conta”.

Ao longo de treze anos, os governos petistas preferiram fechar os olhos para o que acontecia nas fronteiras nacionais, pois assim não comprometeria a ação de alguns integrantes do Foro de São Paulo, começando pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que por um lado sela acordo de paz com o governo colombiano, mas do outro junta-se à facção “Família do Norte” (FDN) para não interromper sua mais rentável atividade, o tráfico de drogas.

Por ocasião das negociações que visavam um acordo de paz entre o governo da Colômbia e as FARC, o UCHO.INFO enfatizou que o grupo narcoterrorista continuaria com suas atividades ilícitas, até porque seria necessário angariar fundos para que o grupo pudesse existir como partido político, conforme consta das tratativas com as autoridades colombianas.

Considerando-se o fato de que o Brasil é o maior consumidor de cocaína do planeta, não causam surpresa as matanças nos presídios, que têm com pano de fundo a disputa pelo controle do narcotráfico no País. Enquanto o governo brasileiro insistir na malemolência discursiva, sem tomar medidas efetivas, os criminosos continuarão desafiando as autoridades, como tem acontecido nos últimos dias.

Como sempre afirmou o UCHO.INFO, se ao Estado cabe o direito de prender, julgar e condenar os chamados “fora da lei”, ao mesmo Estado cabe o dever de recuperar o apenado e garantir sua integridade durante o cumprimento da pena. No momento em que uma rebelião termina em carnificina, como aconteceu no Amazonas e em Roraima, o Estado deve ser responsabilizado, assim como obrigado a pagar indenizações às famílias dos mortos e das vítimas. Quando isso acontecer, o Estado brasileiro quebra, pois é flagrante o desrespeito às mais rasas regras de dignidade humana dentro do sistema prisional brasileiro.

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