Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump corre contra o tempo para entregar aos norte-americanos aquilo que prometeu na campanha. O novo inquilino da Casa Branca sabe que se isso não acontecer – e é difícil de acontecer – terá sérios problemas no cargo. A situação é difícil desde agora, pois Trump continua acreditando que governar a maior potência global é como gerenciar um cassino à beira da falência.
Contrariando orientações dos seus principais assessores, Donald Trump insiste em defender a tortura como arma para combater o terrorismo, como se os serviços de inteligência e a estratégia militares nada resolvessem. Em entrevista exibida na quarta-feira (25), o presidente dos EUA disse acreditar que a tortura funciona no combate ao terrorismo e que está disposto a combater “fogo com fogo” para enfrentar os jihadistas do “Estado Islâmico” (EI).
Para Trump, técnicas de interrogatório usadas no passado na luta contra o terrorismo e consideradas tortura funcionam. “Acredito absolutamente que funcionam”, disse o presidente em entrevista à emissora de televisão ABC News, ocasião em que afirmou que seus chefes de inteligência consideram que técnicas como “waterboarding” (afogamento simulado) podem dar resultados na luta contra o terrorismo.
“Falei com pessoas da cúpula de inteligência e perguntei se a tortura funciona. A resposta foi sim. Quero manter o país seguro. Quando estão cortando cabeças dos nossos e de outros por serem cristãos no Oriente Médio, e o EI faz coisas próprias da Idade Média, eu vou me preocupar com o afogamento simulado? Combateremos fogo com fogo”, declarou.
O presidente disse que escutará seu gabinete, especialmente o secretário da Defesa, James Mattis, e o diretor da CIA, Mike Pompeo, para determinar se serão retomadas as práticas para interrogar suspeitos de terrorismo consideradas torturas pelo Congresso e pelo governo anterior. “Vou confiar em Pompeo, Mattis e meu grupo. Se eles não quiserem fazer, tudo bem. Se quiserem, trabalharei com esse objetivo dentro dos limites do que se pode fazer legalmente”, detalhou o novo presidente.
Donald Trump poderá também assinar uma ordem executiva que restabeleça as prisões secretas da CIA, conhecidas como “black sites”, onde técnicas de interrogatório consideradas tortura foram usadas, disseram funcionários do governo americano à agência de notícias Reuters. Um rascunho de ordem executiva nesse sentido foi divulgado pelo jornal “The Washington Post”. O porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer – um trapalhão profissional – afirmou que o rascunho não é um documento oficial da Casa Branca.
As prisões secretas da CIA no exterior foram usadas para deter suspeitos capturados durante a “guerra ao terrorismo” iniciada pelo ex-presidente George W. Bush após os ataques de 11 de setembro de 2001. O “waterboarding” (amplamente visto como tortura e proibido pelo direito internacional) foi usado nos “black sites”. O ex-presidente Barack Obama oficialmente fechou as prisões secretas.
Oposição da CIA e de muitos republicanos
Durante sua audiência de confirmação no cargo perante uma comissão do Senado, Pompeo disse “não concordar em absoluto” com a retomada das chamadas “técnicas aprimoradas de interrogatório” empregadas pela CIA depois dos atentados do 11 de Setembro. “Não imagino que o presidente eleito fosse me pedir isso”, acrescentou.
O governo Obama acreditava que o uso de tortura havia se mostrado contraproducente nos esforços antiterroristas dos EUA, especialmente em relação aos aliados árabes de Washington. Obama também tentou fechar a controversa prisão de Guantánamo, em Cuba, mas não obteve êxito.
Muitos republicanos também são contrários à reintrodução de técnicas como o “waterboarding”. “O presidente pode assinar a ordem executiva que quiser, mas lei é lei. Não vamos trazer a tortura de volta aos Estados Unidos”, disse o senador republicano John McCain, presidente da Comissão das Forças Armadas e que foi torturado como prisioneiro de guerra no Vietnã.