No rastro da polêmica do muro da vergonha, presidente do México cancela reunião com Trump

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Depois de protagonizar um espetáculo insano a reboque da decisão de construir um muro na fronteira com o México, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, desafiou o colega mexicano, Enrique Peña Nieto, a desmarcar o encontro marcado para o próximo dia 31, em Washington, caso o país não aceitasse pagar pela obra. Estimada, na média, em US$ 28 bilhões, a obra não será custeada pelos mexicanos, afirmou Peña Nieto, que cancelou o novo inquilino da Casa Branca.

O presidente mexicano informou, através de sua conta no Twitter, que está cancelada sua visita à capital norte-america, ocasião em que discutiria com Trump a renegociação do NAFTA (North American Free Trade Agreement), acordo de livre comércio entre Canadá, EUA e México) e a construção do polêmico muro da vergonha.

Na quarta-feira (25), o presidente dos EUA assinou decreto para iniciar a construção do tal muro, sendo que assessores da Casa Branca já estão incumbidos de buscar recursos para custear a obra, cujo objetivo, em tese, é combater a imigração ilegal e o tráfico de drogas.

Nada pode ser mais utópico do que a construção de um muro para separar dois países, mesmo que os argumentos sejam minimamente aceitáveis. Trump chegou à Casa Branca a reboque de uma campanha truculenta e marcada por mentiras de todos os naipes, além de acreditar que governar a maior potência do planeta é tão simples quanto comandar um reality show decadente.

Fanfarrão profissional, o presidente norte-americano parece não saber que o fluxo migratório ilegal a partir do México recuou nos últimos tempos, com a ajuda as autoridades mexicanas. Na verdade, o que há é um movimento de mexicanos que deixa os Estados Unidos em direção à terra natal. Contudo, existe um fluxo de centro-americanos que buscam uma vida melhor nos EUA.


A construção do muro não resolverá o problema de imigração ilegal, pois em alguns pontos da fronteira de 3 mil quilômetros há cercas e barreiras com autoridades, aparato que é considerado eficiente. Combater a imigração ilegal só será possível se os EUA decidirem atuar em parceria com os governos dos países da América Central, criando condições econômicas que garantam uma vida minimamente digna.

Apesar do anunciado muro da vergonha, a imigração ilegal continuará, sendo que os chamados “coiotes” cobrarão muito mais para viabilizar a travessia até a terra do Tio Sam. Em relação ao tráfico de drogas, Trump deveria se preocupar com os americanos que com os cidadãos norte-americanos que usam entorpecentes. O tráfico só existe porque nessa cadeia criminosa existe, em uma das pontas, o comprador final.

Aliás, o México vem atuando de maneira firma contra os cartéis de traficantes, ação que poderá perder força por conta da postura bizarra do presidente norte-americano. Se o combate ao tráfico ainda em território mexicano arrefecer, os EUA terão sérios problemas em curto espaço de tempo. Até porque, os traficantes são extremamente inventivos quando o assunto é manter em atividade um negócio bilionário.

Enrique Peña Nieto não é um político dos mais bem quistos entre os mexicanos, mas a postura equivocada de Trump dará ao presidente do México fôlego suficiente para reverter o calvário em que se encontra atualmente. Era o que Peña Nieto precisava.

Em suma, quem conhece as mazelas que circundam o tema sabe que a tendência é aumentar a imigração ilegal e o tráfico de drogas. Em relação aos ilegais que encontram-se em território dos EUA, Donald Trump deveria, antes de tudo, convencer os americanos a fazerem os trabalhos executados pelos imigrantes latinos, que integram a chamada mão de obra barata.

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